Mora é uma vila localizada na planície alentejana, numa belissima região onde a paisagem apresenta tons dourados salpicados de verde. Para lá chegar a partir de Lisboa, logo que saimos da auto-estrada, temos pela frente vários quilómetros de longas estradas em linha reta. Há qualquer coisa de mágico para mim neste percurso.
Gosto de paisagens serenas em que conduzir ainda se torna um prazer maior. O tempo passa, assim como os quilómetros e a paisagem continua como um quadro. Uma imensidão com azenheiras e sobreiros aqui e ali.
Assim se chega a Mora. Há muitas razões para ir a Mora, vou apenas falar de cinco, que na minha opinião são as principais do que eu conheci.
1 – Conhecer a vida de água doce no Fluviário
Junto ao rio Raia existe o Açude e Parque Ecológico do Gameiro, com vários pontos de atração como o Parque Aventura, o campo de jogos, o campismo, o parque de merendas, o bar, o parque infantil, a praia fluvial, o anfiteatro, o Centro de Interpretação Ambiental e um percurso ambiental.
Em todo o Parque Ecológico é de destacar o Fluviário, que é um aquário público dedicado aos ecossistemas de água doce. O Oceanário de Lisboa está para o ambiente marinho como o Fluviário está para os rios (água doce).
No aquário de Mora ficamos a saber mais sobre a vida aquática de Portugal, da Península Ibérica, mas também de locais distantes como o rio Amazonas (América do Sul) ou os lagos do vale do Rift.
Na visita começamos por acompanhar o percurso de um rio ibérico, desde a sua nascente até à foz ou estuário, onde encontra o mar. Fiquei a saber que na parte superior de um rio (nascente) há peixes mais pequenos, pois têm preferência por zonas de água menos profundas e pelo tipo de alimento que ai existe.
Ao longo do rio existem zonas diferentes, de acordo com variáveis como a inclinação, largura do leito do rio, oxigenação, temperatura e alimentação, o que faz com que existam peixes distintos.
Há medida que vamos descendo no rio já encontramos peixes maiores. Percebi que há peixes que são mesmo de cá (bordalo e cumba, por exemplo) e outros que foram introduzidos pelo Homem para combater alguns problemas (como a malária) e que acabaram por originar outros. Nas margens dos rios o ambiente é lodoso e com vegetação, o que constitui um local perfeito para a existência de uma grande diversidade de peixes e anfíbios.
Percebi que os peixes migram para encontrar alimento e para se reproduzirem, o que pode constituir uma enorme ameaça à sua sobrevivência, devido à existência de barragens e aos pescadores que criam também um outro género de barreira.
Depois de conhecer o rio, o percurso leva-nos até ao exterior para vermos as lontras, que são muito simpáticas e curiosas e que vêm rapidamente ter connosco.
Novamente na parte fechada do Fluviário é a vez de conhecermos os anfíbios, répteis e crustáceos originários de Portugal e logo de seguida espécies encontradas na América do Sul e em alguns lagos de África. É por aqui que vemos as piranhas, que nos observam de forma fixa, mesmo em modo de predador. Há também algumas espécies venenosas, pelo que aqui os animais estão mesmo encerrados, ao contrário do que sucede na primeira parte da exposição.
2 – Visitar Pavia, a povoação mais antiga de Mora
Pavia é uma simpática povoação de Mora, com casas brancas e amarelas, localizada numa zona habitada desde a pré-história. Essa ocupação já tão antiga pode ser comprovada pelos vestígios de diversas antas, que eram monumentos tumulares coletivos datados de tempos pré-históricos. Pavia é a povoação mais antiga de todo o concelho de Mora.
Uma das antas encontra-se mesmo no centro de Pavia, no largo principal, junto à Ermida de São Sebastião. Muitos anos mais tarde após a construção da anta, na época da chegada da colónia de imigrantes italianos originários de Pavia que povoaram a vila, foi adaptada a templo católico dedicado a D. Dinis. Hoje em dia é considerado Monumento Nacional e uma mistura absolutamente fabulosa entre capela e câmara funerária, na minha opinião.
Na vila além da anta-capela é de destaque a igreja matriz, um magnífico miradouro, os antigos Paços do Concelho, a Casa Museu Manuel Ribeiro de Pavia, um pintor e ilustrador filho da terra. Um outro artista português viveu na vila alguns anos, embora não fosse da terra. Foi Fernando Namora, famoso médico e escritor.
3 – Experimentar a gastronomia alentejana
Atrevo-me a afirmar que no Alentejo se come bem. A comida é simples, mas muito saborosa e bem condimentada com oregãos, coentros ou poejos, entre outros.
Na vila de Mora existem meia dúzia de restaurantes, dos quais destaco o “Morense”, que foi aquele onde almocei. O local é simples, a comida maravilhosa e sitio perfeito para encontrar vários habitantes da terra. Eu escolhi uma sopa de cação não como entrada como é habitual em outras regiões, mas como refeição principal. Estava mesmo muito boa.
Dizem que esta iguaria de pão alentejano e cação temperada como azeite, alho, coentros, louro, vinagre, azeite e sal, terá sido introduzido há uns séculos atrás na sopa branca que era consumida pelos trabalhadores da região.
Muito provavelmente se pedir outra coisa neste restaurante será bem servido, mas este prato, posso garantir que é mesmo maravilhoso.
4- Conhecer o património megalítico de Mora, no Museu Interactivo do Megalitismo
Há vários milhares de anos atrás, na pré-história, foram construídos monumentos através da utilização de blocos de pedra, que podiam pesar toneladas. Foi o período do megalitismo.
Em Portugal existem exemplares mais antigos ainda do que o famoso Stonehenge, a estrutura composta por círculos concêntricos de pedras localizada no Reino Unido. Há até quem chame ao Cromleque dos Almendres o Stonehenge do Alentejo.
E é exatamente nesta região portuguesa onde podemos encontrar um maior número de construções megalíticas. Na região de Mora existem várias antas (ou dolmen) e menires. Estes últimos estão normalmente associados ao culto da fecundidade ou a rituais mágico-religiosos.
Uma anta por outro lado, é um monumento megalítico funerário construído com lajes de pedra, que demonstra a dedicação que a comunidade prestava aos seus mortos. Inicialmente eram construções simples, para enterramentos individuais ou monofamiliares e de forma progressiva, ao longo do tempo, foram crescendo em dimensão e complexidade, chegando a apresentar uma câmara e um corredor coberto com pedras e terra.
Com os mortos eram enterrados machados, enxós, objetos de cerâmica e artefatos de xisto que se colocavam por vezes sobre o peito e em outras ocasiões sobre as mãos, minuciosamante trabalhados, com padrões únicos. Quando entramos no Museu e percorremos o corredor até à exposição, vemos imensos orifícios nas paredes e teto que são inspirados no geometrismo dessas placas de xisto.
Todos estes vestígios encontrados na região permitem perceber um pouco melhor como eram os primeiros povoados sedentários e quais eram as estratégias de adaptação dos seus habitantes ao território onde se encontravam.
É sabido que as primeiras comunidades alimentavam-se do que produziam através dos cereais, dos animais que criavam, da caça, da pesca fluvial e dos frutos que recolhiam.
O Museu do Megalitismo localizado na antiga estação de comboios de Mora, abriu recentemente, em 2016. Tem uma belissima exposição permanente que retrata a vida num povoado neolítico, com exibição de um filme em 3D e várias mesas interativas. No Museu existe também um centro de documentação, um espaço internet e uma sala de atividades para crianças. Vai aprender imenso sobre o passado mais antigo de Mora.
5 – Conhecer a lenda de Brotas
Brotas é uma pequena freguesia do concelho de Mora, com cerca de 500 habitantes, com típicas casas brancas e azuis. A sua fundação está relacionada com uma lenda muito interessante.
Tudo aconteceu há mais de 500 anos, quando a vaca que um pastor guardava, escorregou para uma cova, por descuido, e morreu. Para aproveitar algo do seu sustento, decidiu esfolar a vaca. Ao ter a pata da vaca que se tinha partido com a queda, já na sua mão, terá aparecido uma imagem que lhe pediu que se fosse avisar os moradores daquela região para construírem uma capela, a vaca voltaria a ter vida. E assim terá sido.
O pastor fez o que a imagem lhe pediu e quando voltou a vaca estava a pastar, como se nada lhe tivesse acontecido. Na pata cortada da vaca diz-se que surgiu uma imagem da virgem.
Foi construída uma ermida e no seu interior colocada a imagem de Nossa Senhora de Brotas feita no osso da pata da vaca. O culto foi sendo conhecido, pelo que a ermida foi sofrendo várias amplicações e alterações e Brotas tornou-se uma importante povoação e local de importante romaria.
A partir do Santuário existe uma rua, onde se encontram de ambos os lados casas que se destinavam a receber as várias confrarias de fiéis, como as de Palmela, Setúbal ou das Águias. Atualmente estas antigas hospedarias foram transformadas em seis Casas de Romaria, onde é possível dormir.
Vale mesmo a pena escolher a casa que se localiza mais no alto da aldeia porque a partir de lá a paisagem é desafogada para toda a povoação, que é deslumbrante.
Eu viajei para Mora por convite da Câmara Municipal. Fiquei com muita vontade de regressar e de explorar melhor a região. Gostava de estar um pouco mais tempo mesmo na vila de Mora e visitar Cabeção. Vou tentar ir em fevereiro, é o mês das migas, que gosto tanto!
Eu viajei a convite da Câmara Municipal de Mora, mas todos os meus comentários são independentes.
Dicas para ir a Mora
(Se fizer as suas reservas através destes links, não paga mais nada por isso e eu ganho uma pequena comissão, o que é determinante para eu continuar a escrever sobre viagens. Obrigada!)
Como chegar e se deslocar: De carro pela auto-estrada e/ou pela estrada nacional ou de autocarro. Para se deslocar no concelho a todos os locais de interesse recomendo o automóvel para maior autonomia.
Onde dormir: Há algumas possibilidades de alojamento, eu fiz uma viagem de apenas um dia, pelo que fui dormir a casa.
Recomendo este hotel: Casas de Romaria.
Onde comer: Fui ao Restaurante Morense, no centro de Mora e gostei muito.
Era importante falar da torre das águias e também da sua lenda. Local de romarias no passado. Com uma torre ainda com características manuelinas
Olá boa noite 🙂
Muito obrigada pela sugestão, de facto não abordei esse ponto, não estive tempo suficiente em Brotas. Espero voltar em breve e conhecer em pormenor a torre e a sua lenda.