Olhão é uma cidade algarvia, localizada no sul de Portugal, a cerca de 10 minutos de Faro, duas horas e meia de Lisboa e apenas duas de Sevilha. Esta terra de pescadores tem toda a sua frente ribeirinha integrada na Ria Formosa, que é um dos mais belos parques naturais do país.
Além da bela envolvência que esta localização tem, Olhão proporciona, na minha opinião, o melhor peixe fresco do Algarve e muito provavelmente de Portugal.
O peixe é vendido entre 2ª feira e sábado nos edifícios considerados como ex-libris da localidade, que constituem o Mercado Municipal. Além do peixe fresco toda a restante gastronomia já foi elogiada por vários, até mesmo pelo famoso chef Olivier, que tem no seu site uma receita do famoso Folar, que eu pessoalmente adoro.

Olhão é um outro Algarve, autêntico e que embora se esteja a adaptar ao passar dos anos, ainda mantém a sua identidade. É um destino muito interessante para explorar num fim de semana e/ou numa estadia mais prolongada, numas férias de praia por exemplo.
A uma curta distância de barco chegamos ao que para mim são as melhores praias do Algarve, a ilha do Farol/Culatra e da Armona.
Vou falar de dez factos sobre Olhão para o inspirar a integrar esta localidade nos seus planos. Acredite, não se vai arrepender.
1 – Olhão começou no Cerro da Cabeça (ponto alto) e em Moncarapacho
Os primeiros vestígios da presença humana de Olhão são os machados de pedra que foram encontrados no Cerro da Cabeça. Esta é uma elevação do Monte Figo, que possui uma altura de 249 metros e que permite ter uma panorâmica espetacular a toda a volta.
Vale a pena pegar no carro e percorrer os nove quilómetros que separam Olhão de Moncarapacho e depois mais três para o miradouro. Mas não é esta a única razão pela qual deve ir ao Cerro, outro aspetos importantes são o seu valor ambiental (classificado como Sítio de Importância Comunitária pela rede de proteção da natureza no espaço da União Europeia) e a sua riqueza geológica, sendo considerado pelos geólogos um monumento natural.
É um sitio perfeito para fazer um piquenique e estar com algum tempo. Vale mesmo a pena.
2 – Os responsáveis religiosos de Faro já mandaram queimar as casas que havia em Olhão
No início do século XVII alguns pescadores começaram a fixar-se no local conhecido por Praia de Olhão. Ao longo do tempo surgiram cada vez mais casas (e pessoas) e a povoação foi-se desenvolvendo, o que não foi bem visto aos olhos das autoridades de Faro.
O Cabido da Sé de Faro mandou até queimar as cabanas que existiam no Lugar de Olhão, para impedir o seu desenvolvimento. Mas pouco tempo depois deste acontecimento os moradores (do Lugar de Olhão) pediram que fosse criada a Freguesia de Nossa Senhora do Rosário de Olhão. E conseguiram.
3 – Foi em Olhão que começou a expulsão dos franceses do Algarve
Na altura em que os franceses invadiram Portugal pela primeira vez, Olhão era uma aldeia com cerca de 5000 habitantes. O sentimento de descontentamento e revolta era sentido em todo o pais e por isso começaram a surgir alguns movimentos de resistência.
Em junho do ano de 1808 um grupo de olhanenses revoltou-se contra o abuso dos franceses, o que levou à sua expulsão de Olhão e por consequência do Algarve. O resto da região algarvia acabou por seguir as pisadas deste grupo de pescadores e obrigaram os franceses a sairem das suas terras. Foi o aproximar do fim da primeira invasão francesa.
4 – Alguns olhanenses foram ao Brasil avisar a corte portuguesa que os franceses tinham sido expulsos
Um mês depois da expulsão dos franceses de Olhão e também do Algarve, um grupo de 17 olhanenses embarcou no caíque “Bom Sucesso” e atravessou o oceano Atlântico para dar a boa notícia ao Príncipe Regente. A corte portuguesa tinha fugido algum tempo atrás para o Brasil, logo que foi conhecida a ameaça francesa, pois deveriam ter receio do que os invasores lhes pudessem fazer.
Foi então no caíque, um barco de pesca com duas velas e cerca de 20 metros de comprimento por 5 metros de largura, que o grupo de 17 olhanenes chegou ao Rio de Janeiro e conseguiu falar com o Principe Regente de Portugal. Sem instrumentos de navegação e apenas com um mapa náutico rudimentar conseguiram chegar. Por este ato de coragem, Olhão foi reconhecida como vila e recebeu o foral de Olhão da Restauração. Muitos anos mais tarde, em 1985, é que Olhão foi elevada à categoria de Cidade.
A réplica do barco que foi utilizado pelos olhanenses na travessia do oceano Atlântico, encontra-se ancorada na marina de Olhão, mesmo junto ao Mercado.

5 – As casas de Olhão são cubos sobrepostos
O bairro da Barreta é o mais antigo de Olhão e algo único no Algarve, em Portugal e talvez mesmo no mundo. As casas que por lá existem são cubos em cima uns dos outros, parecendo mesmo uma medina árabe.
Alguns olhanenses emigraram para o Norte de África e ao regressar à sua terra, construiram as suas casas, com uma inspiração marroquina. Um pouco por todo o Algarve é comum ver habitações com açoteias (também designadas de terraço), mas a diferença é que em Olhão, por cima da açoteia, ainda se vê um mirante e por cima deste um contra-mirante. Estes diferentes níveis são atualmente locais anexos das casas, que servem para ganhar espaço em altura.
Hoje em dia estes níveis são utilizados apenas para arrumos, ou para a casa ter mais um quarto, mas a origem da açoteia encontra-se relacionada com a necessidade de existir um local para ver o estado do mar e a entrada/saída de barcos.

Numa visita a Olhão, o bairro da Barreta deve ser o primeiro ponto a explorar. Sempre que volto a esta cidade, é a primeira coisa que faço, andar por lá.




6 – Foi utilizado o bioco em Olhão mais de 30 anos após ter sido abolido
O bioco era um traje composto por capote e lenço preto, utilizado em Portugal, especialmente na zona do Algarve. As mulheres usavam-no e ficavam cobertas da cabeça aos pés (só se viam os olhos), o que lhes permitia deslocarem-se de forma discreta, não sendo reconhecidas.
Mas o antigo Governador Civil de Faro via o bioco como um vestígio da dominação muçulmana e decretou que fosse banido das ruas e dos templos. No ano de 1892 o bioco foi oficial extinto, mas as mulheres de Olhão continuaram a usá-lo durante mais de 30 anos. A utilização deste traje estava muito enraizada na população e quando foi proibido, foi sendo gradualmente adaptado até que quando deixou de ser usado já só era um xaile preto e um lenço atado por baixo do pescoço…
7 – Olhão já foi o maior centro de produção regional dos sapatos de ourelo
Até meados do século passado eram muito utilizado no algarve, os chamados sapatos de ourelo. Estes sapatos eram feitos em casa, pelas mulheres de Olhão e depois eram vendidos nas feiras e mercados.
O orelo é uma fita de pano grosso. As artesãs utilizavam ourelos das fardas de inverno dos soldados (de várias cores) e também fitas de pelica, pele de coelho e cabedal na execução de um calçado bonito e colorido.
Olhão era o maior centro de produção regional, tendo chegado a haver 70 mulheres dedicadas a este ofício.
8 – O Mercado Municipal é o ex-líbris da cidade
A zona mais movimentada em Olhão, há uns anos atrás era a Avenida da República, que todos da terra chamavam apenas de “Avenida”. Todos iam para aquela rua com meio quilómetro depois de jantar. Era o ponto de encontro de novos e de mais velhos. As pessoas conversavam e desfilavam, lembro-me bem disto.

Mas nos últimos anos tudo mudou. Agora esta “avenida” está vazia, todos se juntam perto do Mercado Municipal, nos bares e restaurantes que abriram nesta zona junto ao rio.
O Mercado é composto por dois edifícios belíssimos de estilo neo-árabe, de tijolo vermelho e aspeto monumental. Em cada uma das extremidades dos edifícios encontram-se torreões com cúpulas metálicas que se destacam ao longe, tanto na cidade como num passeio de barco que possa fazer pela ria Formosa.


Todos os sábados de manhã agricultores e produtores juntam-se aqui, junto aos mercados do peixe e da hortaliça para vender os seus produtos. Recomendo que organize a sua ida a Olhão para estar presente num sábado de manhã, vale a pena ver o movimento e fazer algumas compras de legumes, fruta e artesanato.
9 – Existe um Caminho das lendas na zona histórica de Olhão
O Caminho das Lendas é um percurso pedonal que liga cinco dos principais largos que existem na zona histórica de Olhão. Em cada um desses largos existe uma obra relativa a uma lenda de Olhão e a respetiva explicação. Fazer este caminho é uma forma super interessante de conhecer a zona histórica da cidade e de perceber um pouco mais sobre a sua cultura, através das suas lendas.
Atravessando as ruas labirintícas desta cidade algarvia ouvimos falar de um amor entre uma moura e um trovador, da Floripes que fugiu para o Norte de África com o compadre Zé, do Arraúl que terá dado origem à formação das ilhas da Ria Formosa ou de histórias de pescadores.


Lenda do Mouro Encantado (Caminho das Lendas)

Lenda de Marim (Caminho das Lendas)
10 – A zona litoral de Olhão integra-se na Ria Formosa
O Parque Natural da Ria Formosa é uma das mais bonitas riquezas naturais do Algarve e encontra-se classificado como Parque Natural. É um sistema lagunar único constituído por sapais, bancos de areia e ilhas barreira onde se encontram as mais belas praias do Algarve e do país, na minha opinião.



A cidade de Olhão possui toda a zona litoral integrada nesta maravilha, pelo que a paisagem de fundo é fabulosa. Barcos de recreio na marina, a réplica do famoso caíque “Bom Sucesso”, os inúmeros barcos de pesca e os barcos maiores que levam passageiros até à Armona, Farol/Culatra. O percurso não é longo para estas ilhas, vêm-se ao longe desde Olhão. Pode perfeitamente ficar a dormir em Olhão e ir para a praia todos os dias, numa semana de férias por exemplo.
Eu já fiz estes percursos de barco para estas ilhas inúmeras vezes, ao longo de vários anos, mas desta vez experimentei fazer um passeio diferente. Dei uma volta pela ria, parando um pouco em todas as ilhas, o que permitiu matar saudades…
A Câmara Municipal de Olhão apoiou a minha viagem, mas todos os meus comentários são independentes.
Dicas para viajar até Olhão
(Se fizer as suas reservas através destes links, não paga mais nada por isso e eu ganho uma pequena comissão, o que é determinante para eu continuar a escrever sobre viagens. Obrigada!).
Como chegar: Se for de Lisboa como eu, pode ir de comboio, autocarro ou de carro como eu fui. Também pode utilizar o avião, mas pela distância e tempo que se perde no aeroporto, penso que não compensa.
Como se deslocar: Olhão é uma cidade pequena, pode explorar tudo a pé, sem grande dificuldade. Se quiser explorar os arredores, recomendo alugar carro. Vale a pena comparar os preços e escolher o melhor negócio na Rentalcars.
Onde dormir: Recomendo ficar a dormir no Real Marina Hotel & Spa. A localização junto à ria é fantástica, os quartos são super confortáveis, o staff é bastante simpático, o pequeno-almoço é muito variado e as piscinas são muito convidativas. A piscina exterior tem uma vista priveligiada para a ria Formosa.
Que tours fazer: Gostei muito do passeio pela ria Formosa que fiz com os Passeios da Ria Formosa, pelo que recomendo. É um passeio de quatro horas com paragem na ilha do Farol/Culatra e da Armona, com uma paragem para almoçar.
Onde comer: Recomendo dois restaurantes e ambos ficam mesmo junto ao Real Marina Hotel & Spa. O Livramento, onde já vou há mais de 20 anos e o Terra i mar, que descobri recentemente e que sinceramente adorei. Em ambos os locais é melhor fazer uma reserva.
Torta de figo com alfarroba no restaurante Pitéu da baixa mar! Coisa deliciosa para recordar até o fim da vida! Voltei LÁ mas não dei sorte, tinha acabado. Ficou um gostinho de quero mais…
Olá Cristina 🙂
Essa torta é uma perdição… Em Olhão a comida (incluindo sobremesas) são mesmo boas. Tem de voltar!!
Um beijinho
Vivi lá 11 anos felizes da minha Vida. No bairro “pinheiros de marim” mesmo junto à linha do combóio. E na Av. Da república tive o meu ESCRITório (empresa) chamada c.s.e.a. quase em frente aos correios. 🙂 bons tempos.
Olá Marília 🙂
Conheco bem esse bairro, acampei muito perto durante muitos verões (Parque de Campismo mesmo ao lado). Que fantástico deve ter sido…
E conhecem o restaurante “À do Fernando”? A nao perdeR, o Peixe mais fresquinho, o prato do dia sempre top, com um gostinho dE “fait maison” as sobremesas regionais. La cerise sur le gateau = o acolHimento de toda a equipa.
Olá Fernanda 🙂
Não me lembro do nome, por isso não devo conhecer! Fica a nota para a próxima vez que lá for. Obrigada!
Artigo muito bem construído. Parabéns!
Deixo aqui um Guia que pode ser adquirido em papel: http://pt.calameo.com/read/000022348605a06dbcae4
Olá António 🙂
Muito obrigada, tão bom saber que gostou!
Vou ver!