Normalmente, quando estou em viagem, não reservo antecipadamente o alojamento. Gosto de sentir que tenho todas as possibilidades do mundo em cada dia. Se gostar de um sítio (ou se descobrir razões para ficar) fico mais tempo, se não gostar, continuo. Simples assim. Não me importo se não vir tantos locais diferentes do país, prefiro ver menos mas melhor.
Mas viajar no Parque Nacional Kruger (irei referir-me apenas como Kruger) não permite esta “leveza” de reservar alojamento dia a dia. Ou melhor, até pode ser possível, mas rapidamente percebi que pode ser bem desafiante e por isso parti de Lisboa já com cinco noites reservadas.
O parque é gigante (tem uma área de dois milhões de hectares) pelo que num dia de visita apenas conseguimos percorrer uma pequena parte dele. Eu andei por lá seis dias inteiros, com um carro que aluguei em Maputo, e não consegui conhecer toda a extensão do Kruger. Mas atenção que não era essa a minha intenção. Como já disse, para mim, menos é mais. Até porque há locais onde a probabilidade de encontrar animais é maior. Esses repeti várias vezes, com tempo.
Sendo assim, o alojamento que escolhemos vai depender de vários factores, tais como a porta de entrada do parque (são 11 portões no total), a quantidade de quilómetros que pensamos fazer no Kruger, a opção de ficar a dormir dentro ou fora do parque, o dinheiro disponível e claro, as nossas preferências pessoais. Visto assim parecem ser demasiadas variáveis a ter em conta, eu sei.
Recomendo em primeiro lugar que olhem para o mapa do Kruger e encontrem o vosso aeroporto de chegada. Vejam qual é a porta de entrada no parque mais próxima, e de acordo com o tempo que tiverem disponível de viagem, selecionem em primeiro lugar a localização que vos parece mais conveniente para ficar a dormir. Se ficarem um ou dois dias recomendo escolherem um hotel próximo dessa porta. Se tiverem mais tempo, tal como eu, explorem várias zonas do parque e escolham um hotel próximo de cada uma dessas áreas.
Com a informação que obtive do parque, que foi basicamente o que se encontra no site oficial (não encontrei muita informação de viajantes que tivessem entrado por conta própria), foi o que me fez sentido planear. Mesmo agora que já passei pela experiência, continua a parecer o mais acertado. Escrevi um artigo extenso sobre o parque, penso que vos pode ajudar a organizar ideias: 10 perguntas sobre o Parque Nacional Kruger .
Vou partilhar com vocês os quatro locais onde escolhi ficar sete noites, que por razões diferentes, são boas opções. Fica a sugestão de as considerarem numa visita.
Aluguei carro em Maputo e entrei na África do Sul em Komatipoort. A opção de ficar a dormir aqui nesta terra foi apenas pela sua localização. É perfeita para quem entra no Kruger pela capital moçambicana. Há várias opções aqui, bem mais acessíveis do que as que se encontram mais próximas da porta de entrada Crocodile Bridge, que fica apenas a 16 quilómetros.
Já em Komatipoort foi apenas ligar a internet, aceder ao booking, ver os alojamentos disponíveis por lá e foi nesse contexto que surgiu o Sleepover Komatipoort. O hotel é constituído por várias pequenas casinhas, inseridas num jardim. No regresso do Kruger para Maputo foi igual, também fiquei aqui.
Existe uma zona, no exterior do Parque Nacional Kruger, próxima da primeira entrada que eu utilizei (Crocodile bridge), chamada Merloth Park. É um santuário de vida selvagem, com sete quilómetros de diâmetro, onde se encontram várias possibilidades de alojamento. Aqui os animais percorrem livremente todo o espaço, o que quer dizer que se ficarem a dormir num dos hotéis que por lá existem, têm uma elevada probabilidade de se cruzar com kudus, zebras, gnus ou javalis. Pelo que me disseram e também pelo que senti, os animais já estão habituados à presença de humanos. Mas claro há que respeitar e não provocar. A “casa” é deles.
É neste contexto que encontramos o Kruger Eden Lodge, com o mote “conforto encontra a natureza”. Quando lá chegamos percebemos porquê. Os quartos são pequenas cabanas de madeira, perfeitamente inseridas na explosão de verde. Estamos entre árvores a baloiçar com os macacos que saltitam entre ramos e vemos gnus que se deslocam em busca de comida, de erva. A proximidade, o contacto, com a natureza e os animais é mesmo impressionante, na minha opinião, o ponto forte do hotel.
Além dos quartos e da zona da receção existe uma zona maior destinada à tomada de refeições. O sr. José, nascido e criado em Maputo, acolhe-nos em português, perguntando quais são as nossas opções alimentares. Comemos bem, num ambiente mágico, silencioso, com gnus a poucos metros, curiosos, que também nos acompanham na refeição.
Como tive seis dias a explorar o Kruger, optei por diversificar as zonas a percorrer do parque. Por isso, depois de passar os primeiros dias mais a sul, na zona mais próxima de Crocodile Bridge, rumei a norte em direção à porta Phalaborwa. A paisagem por aqui é outra, com vegetação mais baixa, e os animais que vi também.
A 400 metros dessa porta encontramos o Bushveld Terrace – Hotel on Kruger, um oásis de elegância no fim de um dia de exploração no Kruger. Este espaço de quatro estrelas, tem 30 quartos divididos em dois pisos, uma piscina, um bar e restaurante com uma esplanada no exterior, perfeitas para as noites quentes da África do Sul.
Um ponto que para mim é muito forte, além da flexibilidade com as opções alimentares, é a decoração. É minimalista tal como eu gosto e as fotos de animais que se encontram no vizinho parque, espalhadas por todo o hotel, são fantásticas. Na minha segunda noite de estadia houve um apagão (mesmo com todos os sistemas disponíveis) e isso permitiu-nos usufruir de um jantar bem especial à luz de velas. Aproveitámos os jogos disponíveis numa sala próxima da receção e tivemos uma noite mesmo memorável. Senti que de certa forma ainda me aproximou mais da experiência mais “crua” de contacto com a natureza que o Kruger implica.
Se forem mais para norte no parque, não percam.
Ter ficado a dormir no Kruger Shalati, em pleno Parque Nacional Kruger, foi uma experiência incrível. Escrevi um artigo sobre isso, podem ver aqui: O Hotel Kruger Shalati e a histórica linha Selati.
Vistos: De acordo com o portal das comunidades portuguesas, os cidadãos portugueses que pretendam visitar a África do Sul em turismo não necessitam de visto. À chegada será concedido um visto por 90 dias. É necessário apresentar passaporte eletrónico com validade de 6 meses e com pelo menos, duas páginas livres. Se chegar ao Kruger por outro país, verifique também as condições de entrada. Por exemplo, Moçambique neste momento já não exige visto.
Como chegar: Podem chegar a todos os hotéis que aqui referi de carro (vindo de Moçambique, do Zimbabwe ou da África do Sul), ou de avião, sendo o aeroporto Kruger Mpumalanga o que se encontra mais próximo. Mas atenção que são poucas as companhias aéreas que voam para este aeroporto. A grande maioria dos visitantes penso que voa para Maputo ou para Joanesburgo e depois aluga carro (tal como eu fiz).
Como se deslocar: No interior do Kruger podem circular apenas de carro, caravana ou algo similar. Não há alternativa a isto. Para estes hotéis que referi aqui o mais fácil é mesmo carro próprio, honestamente não vejo grande alternativa a isso. Só mesmo talvez falando com cada alojamento e pedindo ajuda a chegar.
A minha estadia resultou de uma parceria com o Kruger Eden Lodge, o Bushveld Terrace – Hotel on Kruger e o Kruger Shalati – Train on the bridge. Como sempre os meus comentários são independentes.
Como sempre, mais um artigo cheio de dicas super importantes e pertinentes! Identifico-me muito com “menos é mais” e ir sempre atrás de experiências “mais cruas”. Obrigada por todo o conteúdo Catarina