10 perguntas sobre o Parque Nacional Kruger

Houve um tempo em que existia uma República que se chamava Transvaal. Ocupava o território que corresponde atualmente à zona norte da África do Sul, ou seja, ao local que abrange as províncias de Gauteng, Nororeste, Limpopo e Mpumalanga.

Essa República tinha um Presidente com o nome de Stephanus Johannes Paulus Kruger, ou simplesmente Paul Kruger, como ficou conhecido. Diz-se que ele tinha a preocupação de proteger a vida selvagem no “seu” território e que por isso criou em 1898 uma zona dentro da qual os animais estivessem protegidos, ou seja, onde a caça fosse controlada.

Essa 1ª zona protegida, Sabie Game Reserve, foi expandida em área, passando a ter dois milhões de hectares (área que tem hoje em dia). Em 1927 chegaram os primeiros turistas, existindo para auxiliar no acesso ao parque uma linha de comboio, que ainda hoje pode ser visitada.

Alguns anos após a sua morte, a reserva foi batizada com o nome de Kruger, tal como a conhecemos atualmente: Parque Nacional Kruger. Uma visita a este local é algo único e que recomendo fazer pelo menos uma vez na vida!!!! Andar por aqui de forma independente (ou seja, sem agência de viagens ou guia) não é complicado e para vos ajudar coloquei alguns tópicos importantes sob o formato de 10 perguntas.

1 - Quando ir?

Na minha opinião a melhor altura para viajar pelo Parque Nacional Kruger (doravante designado apenas por Kruger) é na época seca. Os meses compreendidos entre maio e outubro, em que a probabilidade de ocorrência de chuva é menor, parecem ser mais interessantes.

Eu estive seis dias inteiros em abril deste ano (2023), estava algum calor e nunca choveu. Foi perfeito. Mas claro, nestas coisas de meteorologia é sempre tudo muito variável… É importante é ter em mente que viajar para lá num período do ano em que a probabilidade de chuva é maior, poderá ser mais difícil observar animais.

2 – Como chegar?

O Kruger tem no total, onze portões, que são os únicos locais do parque onde é possível entrar e sair. A decisão de qual (ou quais) local (ou locais) utilizar encontra-se relacionado com fatores como a localização onde estão e onde ficam a dormir, por exemplo. No planeamento de uma viagem ao Kruger são “pormenores” a não descurar, devido à extensão da área do parque. Em um dos dias entrei pelo sul e pensei “vou até ao extremo”, mas correu mal, tive de sair num outro portão e fazer o resto do percurso por estrada já fora do parque.

No meu caso, utilizei quatro portões:

  • Crocodile Bridge: o que está mais próximo de Maputo, de onde eu saí em direção ao Kruger. De carro são cerca de três horas para fazer essa distância. É preciso ter atenção ao estado da estrada e à quantidade de pesados a circular, ou seja, é preciso contar com alguma lentidão e várias paragens. No caminho é necessário passar a fronteira entre Moçambique e África do Sul, processo que pode demorar algum tempo, dependendo da fila para mostrar os passaportes de ambos os lados e de toda a papelada do carro.
  • Malelane: um dos dias em que estive no Kruger entrei por este portão. Apenas pela proximidade ao alojamento em que fiquei durante os primeiros dias e porque queria experimentar entrar diretamemente no Kruger por uma outra zona, tentar ver outros animais e paisagem.
  • Orpen: num dos dias em que estive no parque mudei de alojamento, passando a estar mais dois dias num local mais a norte. O objetivo desse dia era entrar a sul no Crocodile Bridge e sair em Phalaborwa a “meia dúzia de passos” do hotel. Mas subestimei o tempo do percurso. Estava quase na hora do parque encerrar e tive de sair no portão Orpen e depois fazer o resto dos quilómetros por fora. Cheguei duas horas mais tarde ao hotel…
  • Phalaborwa: o hotel onde fiquei no segundo bloco de duas noites localiza-se muito perto deste portão e por foi mais um que utilizei.

Supostamente as regras de entrada e saída são as mesmas em todo o Kruger. Na prática, e pela minha experiência, não é bem assim. A verificação do passaporte e do conteúdo interior do carro é bastante variável. Mas uma coisa é sempre igual: é preciso respeitar escrupulosamente os horários. Dependendo do mês do ano em que estivermos o horário vai mudando, por isso, quando entrarem no parque verifiquem bem e cumpram. Se virem que o parque encerra às 18h, por exemplo (como na altura em que lá estive), têm de sair antes dessa hora.

Nos últimos minutos de um dos dias em que andei pelo Kruger, distraí-me com uns búfalos, animais que ainda não tinha visto até então. Cheguei uns três minutos mais tarde e arrisquei uma multa por não ter cumprido as regras. Não repeti.

3 – É preciso pagar para entrar?

Sim, é sempre necessário pagar uma taxa para entrar no Kruger. Quando eu lá estive, em abril de 2023, paguei diariamente para dois adultos e uma criança de oito anos, qualquer coisa equivalente a 60€. Este valor pode ser diferente para os sul-africanos e para quem tenha o cartão dos parques (Wild Card).

A única exceção ao pagamento da taxa é apenas aplicável para aqueles que dormem no interior do parque. Na última das seis noites em que explorei o Kruger dormi no Kruger Shalati, o famoso hotel comboio, em plena savana. Quando fiz o check-out do hotel entregaram-me um documento que confirmava que lá tinha passado a noite e que tive de mostrar no portão no momento de saída.

4 – De que forma posso visitar?

Podem entrar no Kruger de duas maneiras. Uma delas é no vosso carro, sem qualquer guia, tal como eu fiz. Na minha opinião é sempre a melhor opção. Adoro a minha liberdade em qualquer lado do mundo.

Em alternativa podem integrar um passeio com uma das muitas empresas que poderão encontrar na internet. Basta procurar “safaris Kruger” e verão que as possibilidades são inúmeras. Nos dias em que estive no parque vi várias empresas a fazer passeios, algumas das quais de hotéis, mas não posso recomendar nenhuma.

A única experiência que tive foi o passeio integrado na minha estadia no Kruger Shalati – Train on the Bridge.

5 – Que cuidados devo ter no parque?

Ao visitar o Kruger é preciso ter consciência de alguns aspetos. O primeiro deles, diria até que o mais importante, é nunca sair do carro. Em circunstância alguma podemos arriscar algo deste género. A qualquer altura pode aparecer um animal, desde um camaleão a um leão ou outro felino, eventualmente perigoso para nós. Para sair do carro há zonas muito bem identificadas para esse fim. Mais à frente explico melhor.

Outro aspeto muito relevante é a condução. É preciso circular sempre pelos caminhos definidos e cumprir os limites de velocidade, que variam de acordo com o tipo de estrada (há diferentes tipos de estrada no parque), principalmente pela segurança dos animais. É a casa deles, pelo que andam livremente por todo o lado, estradas incluídas. Temos de andar devagar, atentos aos animais, até porque observá-los é a grande finalidade da visita.

Atenção também aos cocós da estrada! Neles encontramos várias vezes o escaravelho do cocó a trabalhar, como quem diz, a fazer bolinhas do dito resíduo, que é o seu alimento.

Outra questão muito importante são os horários, os de entrada e saída do parque e também os do alojamento se ficarem no interior do Kruger. É preciso gerir bem o dia, as distâncias a fazer, para conseguir cumprir.

Importa ainda referir que é proibido consumir álcool nas áreas públicas, utilizar drone, entrar com qualquer tipo de animal de estimação ou alimentar os animais do parque, entre outros pontos que devem ser consultados no site do parque.

Por último referir que o Kruger está numa zona de malária, por isso é preciso tomar as devidas precauções. Mas claro, o médico da consulta do viajante dirá tudo o que precisam saber. No meu caso, tomei antimalárico (Maria incluída) e usei imenso repelente.

6 – Que animais vou ver?

Esta é uma pergunta que é impossível responder… Depende. Eu estive seis dias inteiros no Kruger e todos eles foram diferentes em termos de observação de animais.

Os animais que vi com bastante frequência foram os antílopes (impalas e kudus), zebras e elefantes. Todos os dias a toda a hora. Depois ao longo dos dias, e da zona do parque onde estava, ia observando outras espécies: crocodilos, hipopótamos, búfalos, girafas, camaleões, javalis, abutres, macacos, hienas e alguns outros que para ser muito sincera, não sei identificar.

Num dia de manhã bastante cedo, ainda o sol não tinha nascido, tive a sorte incrível de observar vários leões numa disputa de território, com muitos rugidos à mistura. Foi um momento BBC vida selvagem que jamais esquecerei!

Isto tudo para dizer que não dá para responder a esta pergunta. Mas penso que o mais importante é ir com o máximo de tempo possível para aumentar as probabilidades, ter paciência e… sorte. Um conselho que dou é parar algum tempo quando encontrarem animais. O mais interessante no parque é esta possibilidade de nos ligarmos aos animais, de os observarmos na sua rotina e habitat natural. Não tenham pressa de ver os próximos animais. Fiquem com tempo. Aprendemos imenso.

Por várias vezes senti que os animais também estavam a olhar para o carro onde eu ia e para nós, no interior. É giro ficar tempo suficiente para eles já não estranharem a nossa presença. O comportamento muda, passa a ser mais natural e genuíno.

7 – Onde dormir?

Primeiro que tudo há que dividir as possibilidades de dormida em duas. Uma delas é dormir no exterior do parque. Se pesquisarem pelas possibilidades irão ver que quanto mais próximo de um dos portões de entrada e saída do Kruger, mais caro é o alojamento, regra geral. Por isso, escolham de acordo com a vossa carteira, gosto e tempo no parque.

Outra possibilidade é dormir no interior do parque, tal como eu fiz numa das noites. Foi uma experiência incrível, até porque foi no Kruger Shalati, o hotel comboio. Se conseguirem ter esta experiência, façam-no. Garanto que não se vão arrepender.

Mas há outras possibilidades de alojamento no interior do parque, tais como por exemplo, campismo, tendas, guest houses e “lodges” super luxuosos. É um mundo de possibilidades.

8 – Onde comer ou ir à casa de banho?

Há zonas espalhadas pelo Kruger destinadas à realização de paragens. Nestes locais é seguro sair do carro. Estes espaços podem ter condições diferentes. Alguns são pequenos e têm apenas uma casa de banho, outros são muito maiores, podendo ter supermercados, restaurantes ou uma mesquita por exemplo.

Ao planearem o vosso dia no Kruger pensem logo desde o início do passeio do que planeiam precisar. Estas áreas que descrevi acima estão relativamente distantes umas das outras, ou seja, numa hora de passeio (ou até mais) vão encontrar uma apenas, muito provavelmente.

No meu caso o que eu fazia era levar já almoço, algo que fosse possível comer frio. Comprava num supermercado que ficasse próximo do local onde tinha ficado a dormir, antes de entrar no parque. Além do almoço, comprava sempre bastante água, pão e mais alguma coisa para os snacks entre refeições. Isto foi uma grande poupança mas também um ganho de tempo. O meu objetivo ao estar seis dias no Kruger era de estar o máximo de tempo na savana a observar animais, não parada num restaurante à espera do almoço.

Em cada dia definia uma zona que iria explorar e olhava logo para os sítios que pudesse utilizar para ir à casa de banho ou para fazer algumas paragens. As distâncias são grandes, é preciso gerir mais ou menos o dia de “safari” para depois quando quisermos parar para almoçar, não estarmos a duas horas de algum sítio. Se bem que há sempre a possibilidade de comer no carro…

9 – Posso levar os meus filhos?

Quem me segue já sabe que viajo em família, com o Ricardo e a Maria. Desde que tem dois meses de vida que ela explora o mundo connosco. Dito isto, sim, o Kruger é um local absolutamente incrível para viajar com filhos. Para mim dar-lhe mundo é fundamental.

Mas por outro lado, e pais sabem disto, viajar com crianças implica uma responsabilidade acrescida, por isso é preciso ter atenção às características da criança. À primeira vista não há nenhuma idade mínima indicada no site oficial do parque, mas honestamente eu não iria nos primeiros anos da Maria observar animais (a primeira vez que o fez já tinha cinco anos). Para segurança de todos temos (ou devemos) ter uma postura discreta e silenciosa nessa atividade de observação de animais e com um bebé pequeno pode mesmo ser perigoso.

Eu diria que deverão recorrer ao vosso bom senso se viajarem como eu, de forma independente, ou respeitar as regras relativas à idade mínima da empresa que escolherem como vossa guia.

10 – É perigoso?

Já estive em dois parques na África do Sul a observar animais (além do Kruger já estive também no parque Addo Elephant), de forma independente, e confesso que não achei perigoso. Mas saliento que é crucial respeitar as regras.

O único animal que quando observado de muito perto me faz acelerar um pouco o coração é o elefante, pelo seu tamanho, quando comparado com um carro. Pelo menos os carros que eu utilizei! Mas na verdade nunca aconteceu nada que me fizesse sentir em perigo. Se se sentirem numa situação desconfortável podem sempre afastar-se devagarinho, ou nem sequer se aproximar tanto.

Ao longo dos dias no Kruger passaram a muito menos de um metro inúmeros elefantes por mim. Famílias inteiras, com bebés incluídos. Foi muito emocionante e apenas num momento em que eles estavam a andar com pressa (a fugir de alguma coisa que não entendi) é que tive algum receio. Nessa situação mantivemo-nos parados, à espera, eles olharam para nós no interior do carro e passaram.

Informação prática

Vistos: De acordo com o portal das comunidades portuguesas, os cidadãos portugueses que pretendam visitar a África do Sul em turismo não necessitam de visto. À chegada será concedido um visto por 90 dias. É necessário apresentar passaporte eletrónico com validade de 6 meses e com pelo menos, duas páginas livres.

Como chegar: Podem chegar ao Kruger de carro, vindo de Moçambique, do Zimbabwe ou da África do Sul. Ou de avião, sendo o aeroporto Kruger Mpumalanga o que se encontra mais próximo. São poucas as companhias aéreas que voam para este aeroporto. A grande maioria das pessoas penso que voa para Maputo ou para Joanesburgo e depois a aí aluga carro.

Como se deslocar: No interior do Kruger podem circular apenas de carro, caravana ou algo similar. Não há alternativa a isto.

Onde dormir: Como expliquei ao longo do artigo, podem ficar a dormir no interior do parque (há inúmeras opções de acordo com a vossa capacidade financeira) ou em alternativa, no exterior, mais ou menos em local próximo a dos portões de entrada. Ao longo do período em que explorei fiquei em sítios diferentes:

  • SleepOver Komatipoort: local estratégico, simples, a um preço justo, numa povoação localizada no percurso desde Maputo (onde aluguei carro), logo após a fronteira com a África do Sul e a 20 minutos de Crocodile Bridge, que ia utilizar para entrar.
  • Kruger Eden Lodge: casinhas de madeira, perfeitamente integradas na natureza, num ambiente de enorme tranquailidade. Durante a noite andam por aqui gnus! É lindo.
  • Bushveld Terrace: pequeno hotel com quatro estrelas, muito elegante, com belíssimas refeições, que fica apenas a 400 metros de uma das entradas do Kruger.
  • Kruger Shalati: este foi um dos hotéis mais incríveis onde já tive oportunidade de ficar a dormir. Fica em pleno parque nacional, tem uma envolvência, uma elegância, como honestamente nunca vi. Fiquei apenas uma noite mas ficaria facilmente um mês inteiro.

Importa referir, porque prezo muito a honestidade, que as (cinco noites) nos quatro últimos locais que referi acima foram realizados através de uma parceria. Como é obvio, a minha opinião, é absolutamente transparente. Quer seja parceria ou não.

Onde comer: Existem várias opções de restaurantes no parque. No entanto são poucas, mais ou menos distantes, pelo que na minha perspetiva não são uma grande opção. Recomendo levarem comida quando entrarem no Kruger, irão poupar muito dinheiro e tempo….

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  • Su Costa diz:
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    Olá Catarina! Pretendo ir em novembro para Moçambique e estou a tratar da documentação. Sou portuguesa e me disseram (no Consulado de Moçambique em Lisboa) que é preciso tirar o visto antes. Pode me explicar se você e a sua precisaram de tirar o visto antes da viagem? Obrigada!
  • Ana diz:
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    Bom dia, Muito obrigada pela descrição! somos um grupo de 4 pessoas e vamos ao Kruger desde Maputo, em setembro.. e ideia é termos carro e irmos até lá no carro.. a questão é dúvida surge na fronteira.. é um processo relativamente simples? Apenas precisamos dos passaportes correto? Muito obrigada
  • Excelente artigo Catarina!
    Super completo, FALAs de tudo o que acho importante para organizar uma visita, super esclarecedor! Fiquei elucidada sobre vários aspetos, respondeste a todas as dúvidas que poderiam existir na minha cabeça numa futura VIAGEM. O eigada e parabéns!

  • Fiquei cheia de vontade de visitar o Kruger de forma independente. A informação partilhada é muito completa e deixa o “bichinho” para ir ver bichos 🙂

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