“Para os lados” da zona Centro de Portugal encontra-se a belíssima região de Coimbra. Talvez não tanto a região mas principalmente a cidade, é reconhecida por todos os portugueses e acredito que por muitos estrangeiros também. Quem pensa em Coimbra lembra-se de imediato da Universidade, o rio Mondego, o fado e as serenatas.
Mas não só, a cidade é muito mais do que isso, como toda a região que a envolve. A convite da Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra estive três dias a descobrir o Roteiro “Memória viva, histórias de hoje“. Aqui neste artigo indico quais os locais que explorei. Honestamemte, gostei muito de revisitar sítios onde não ia há anos e de visitar alguns outros como o Museu Portugal Romano em Sicó PO.RO.S e o Centro Interpretativo do espaço muralhado de Soure que ainda não conhecia.
Coimbra, Condeixa-a-Nova e Soure é rica em história, que me fascina. Neste artigo falo um pouco sobre cada um dos locais por onde andei nestes dias três dias. Quantos deles vocês conhecem?
Coimbra
1 – Mosteiro de Santa Clara-a-Velha
A alguns metros do rio Mondego, encontramos um antigo Mosteiro, classificado como Monumento Nacional. Quando nos aproximamos vemos de imediato que é uma ruína, e que a visita ao seu interior não é permitida. No entanto, muito perto, existe um edifício muito mais recente que permite conhecer toda a história e as características deste espaço e da vivência da comunidade.
Tudo começou no longínquo ano de 1283 quando Dona Mor Dias (filha do alcaide de Coimbra), fundou o mosteiro. A criação desta casa religiosa dedicada à Ordem de Santa Clara teve como consequência uma oposição dos Monges de Santa Cruz, que se encontravam na outra margem do Mondego. E acabaram por “vencer” com a extinção do espaço.
Após esta primeira fase do Mosteiro é que entrou na história a carismática Isabel de Aragão, conhecida por Rainha Santa Isabel, que vivia em Coimbra desde a morte do marido. Ela conseguiu obter a autorização do Papa para instalar as monjas clarissas, no espaço que se encontrava encerrado.
No decorrer do tempo em que o Mosteiro esteve ocupado sofreu várias cheias do rio Mondego, o que levou à necessidade de construção de um Mosteiro numa zona mais alta. Ação que se iniciou no ano de 1647.
2 – Convento de São Francisco
Pelo que se sabe foi em 1247 que foi fundado o edifício primitivo do Convento de São Francisco. Tal como o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, também este se localizava relativamente perto da margem do rio Mondego, sendo que as cheias que o atingiam com alguma regularidade, obrigaram à construção de um novo espaço numa zona mais alta.
No início do século XVII os monges Franciscanos ocuparam a nova casa e aí se mantiveram até à extinção das Ordens Religiosas. Desde a sua fundação o convento foi utilizado como quartel e hospital das tropas francesas, junta de freguesia, fábrica de massas alimentícias, fábrica a vapor e unidade fabril têxtil. Recentemente após a aquisição por parte da Câmara Municipal de Coimbra, foi transformado num espaço dedicado à cultura e realização de congressos, tendo um auditório com capacidade para 1125 lugares e várias outras salas.
3 – Universidade de Coimbra
A Universidade de Coimbra é um local absolutamente incontornável na história da cidade e mesmo do país. Foi a primeira a ser instalada em Portugal, uma das primeiras de todo o mundo e já foi reconhecida como Património Mundial da UNESCO. Não deixem mesmo de ir visitar!
Corria o ano de 1290 quando o rei D. Dinis criou o “Estudo Geral”, um documento que abria portas à fundação das Faculdades de Teologia, Cânones, Leis e Medicina. Após um intervalo de tempo de três séculos em que a universidade mudou de morada entre Lisboa e Coimbra, foi transferida de forma definitiva para esta última em 1537.
Inicialmente o espaço reservado ao ensino universitário em Coimbra era apenas o Paço Real da Alcaçova, mas com o passar do tempo ocupou cada vez mais locais da cidade, existindo hoje oito faculdades concentradas em três polos.
Eu comprei o bilhete “Universidade com Biblioteca Joanina“, que me permitiu visitar alguns espaços tais como:
- A Biblioteca Joanina: uma das ricas bibliotecas europeias, que deve o seu nome a D. João V, uma vez que a sua construção foi realizada durante o seu reinado. Reparem com atenção na escadaria de Minerva que têm de percorrer;
- A Capela de São Miguel: as suas origens são tão antigas quanto Portugal;
- O Palácio Real: começou por ser a alcaçova do Governador da Cidade, depois passou a residência do rei D. Afonso Henriques e finalmente universidade. Aqui podemos visitar a Via Latina, a Sala dos Atos Grandes (que era a antiga Sala do Trono), a Sala do Exame Privado;
- O Laboratório Chimico: onde conhecemos mais sobre como era este espaço há uns bons anos atrás e também sobre luz e matéria.
Destaco ainda a Porta Férrea, que já foi a entrada da Cidadela de Coimbra, a Torre da Universidade (ao sino mais conhecido é dado o nome de “cabra”) e ao enorme Pátio.
4 – Jardim Botânico
No ano de 1772 Marquês de Pombal conduziu uma reforma, no sentido da modernização da Universidade de Coimbra. Uma das ações foi a fundação do núcleo inicial do Jardim Botânico, que ocupou na sua maioria terrenos cedidos pelos frades Beneditinos e que tinha como objetivo auxiliar o ensino da História Natural e das ciências médicas.
O Jardim ocupa uma área total de 13 hectares no coração da cidade e encontra-se integrado no Património Mundial reconhecido pela UNESCO em Coimbra. Neste espaço encontra-se a Estufa Grande que é considerada um dos mais antigos edifícios da arquitetura de ferro no país.
Aqui podem encontrar um espaço bonito e muito tranquilo.
Condeixa-a-Nova
1 – Museu Portugal Romano em Sicó (PO.RO.S)
O território designado por Terras de Sicó, engloba os munícipios de Alvaiázere, Ansião, Condeixa-a-Nova, Penela, Pombal e Soure, que se localizam em torno do maciço da Serra de Sicó. A história desta região encontra-se fortemente ligada à presença romana, sendo um dos melhores e mais importantes testemunhos desse período as tão conhecidas Ruínas de Conimbriga.
O Museu Portugal Romano em Sicó PO.RO.S é um espaço novo, localizado a cerca de 15 quilómetros de Coimbra, que nos permite viajar no tempo e conhecer muito mais sobre os romanos. De uma forma super interativa, é-nos permitido conhecer mais sobre o modo de vida do povo de Roma. Quem eram os seus imperadores, como se estruturavam, quais eram as suas técnicas militares, como era o processo de romanização, toda a interação no território de Sicó e muito mais.
Na minha opinião é um complemento perfeito a uma visita às Ruínas de Conimbriga, que acaba por colmatar a pouca informação que por lá está. O contrário também é verdade, uma vez que visitar o que resta de Conimbriga tendo já passado pelo Museu Romano dá-lhe uma outra dimensão. Vão aos dois, sem qualquer dúvida.
2 – Ruínas da cidade romana de Conimbriga
As Ruínas da antiga cidade de Conimbriga são um dos melhores testemunhos da romanização em Portugal, sendo por isso imperdíveis de conhecer. Todo o aglomerado encontra-se classificado como Monumento Nacional.
Para conhecer todo este espaço é obrigatório comprar bilhete, sendo que este inclui a visita ao Museu Monográfico de Coimbra. Honestamente, depois de ter visitado o PO.RO.S, senti que não acrescentou muito mais informação ao que já tinha obtido. Mas de qualquer forma vale a pena investir algum tempo nele.
No decorrer da exploração da antiga cidade vemos vários locais muito interessantes:
- Estrada Romana: que ligava Lisboa a Braga;
- Lojas: espaços destinados a comércio e artesanato;
- Várias residências: como a Casa da Cruz Suástica, dos Esqueletos ou de Cantaber (a maior privada da cidade), que permitem perceber que as mais prestigiadas se disponham num eixo central, ou seja, tinham um pátio à volta do qual se disponham as restantes divisões;
- Termas: e toda a sua estrutura, parte edificada com função balnear e outros dedicados ao convívio e prática de desporto. É possível perceber que nas casas mais ricas existiam termas privadas, como no caso da Casa de Cantaber;
- Basílica paleo-cristã: o único edifício associado ao culto cristão;
- Fórum: este era o centro de qualquer cidade romana, sendo aqui que se desevolvia a vida pública, cultural e económica;
- Castellum: grande tanque de água, onde esta chegava de Alcabideque, e depois era distribuído pela cidade através de canalizações de chumbo;
- Muralha: construída nos últimos anos.
A estrutura que se destaca logo que entramos na zona das ruínas e que está melhor preservada é a Casa dos Repuxos. Esta era uma grande residência aristocrática onde é possível observar uma dimensão considerável e bem preservada de mosaicos, assim como de pintura mural. Aqui existem alguns repuxos que deram o nome à casa.
3 – Castellum de Alcabideque
Era em Alcabideque que se efectuava a captação de água que abastecia a cidade de Conimbriga, utilizada para as residências e as termas, por exemplo. Aqui na nascente atualmente vemos a torre de captação e uma represa, por onde passeiam alguns patinhos.
Daqui o aqueduto sai em direção à antiga cidade de Conimbriga, passando por debaixo do solo e correndo sobre arcos, com uma extensão total de 3550 metros.
4 – Reserva Natural do Parque de Arzila
Mas não é só a presença romana que é de destacar em Condeixa-a-Nova. Por aqui existe a ribeira de Cernache, um afluente do Rio Mondego que proporciona a existência de condições para a presença de uma área de 535 hectares com características muito interessantes. É uma zona húmida que integra a Rede Natura 2000 e que está classificada como Rede Europeia de Reservas Biogenéticas.
Nesta reserva passam aves migradoras transarianas e alimentam-se, repousam e refugiam-se espécies nidificantes. Se forem até esta reserva podem visitar o Centro de Interpretação e um percurso pedonal. Quando por aqui passei estava mau tempo, a chover bastante, por isso apenas explorei o centro. Fica em falta fazer o percurso e tentar encontrar raposas, garças, lontras e patos.
5 – Palácio dos Figueiredos
No centro administrativo de todo este território, como quem diz, no centro da vila de Condeixa-a-Nova, domina a paisagem um antigo palácio. O Palácio dos Figueiredos é uma casa senhorial classificada como Imóvel de Interesse Público que já foi considerada um dos palácios mais belos de Portugal pela sua arquitetura.
Esta casa foi incendiada pelas tropas francesas, tendo sido recuperada anos mais tarde. Já foi um hospital, Tribunal Judicial e Clube, sendo atualmente os Paços do Município.
Soure
1 – Castelo, Igreja de Nossa Senhora de Finisterra e Necrópole
Falar de Soure é falar dos Templários, uma vez que aqui já foi a sua casa-mãe, a sua primeira sede, de um vasto domínio. No longínquo ano de 1128 após um prolongado abandono (devido às incursões almorávidas), o castelo, erguido por ordem de D. Sesnando, foi doado aos cavaleiros templários, tendo em vista a defesa do território e a fixação de povoadores em Soure.
O castelo sofreu algumas transformações, nomeadamente as levadas a cabo pelo mestre Gualdim Pais, escudeiro de D. Afonso Henriques, que está ligado à fundação do castelo de Tomar e de Almourol. Ao longo do tempo foi construída uma torre de menagem, introduzido o alambor na estrutura defensiva e abertas amplas janelas.
Hoje em dia não resta muito do castelo, mas de qualquer forma vale mesmo muito a pena explorar com atenção as suas ruínas. Na minha opinião, muito por toda a história a que está ligado e também pelo seu local um pouco diferente. Esta estrutura de Soure não está num local elevado como é habitual, mas sim numa zona plana, muito pelo aproveitamento da proximidade ao ponto de confluência dos rios Anço e Arunca. Recomendo vivamente uma visita ao Centro Interpretativo que está logo ao lado, porque aqui há informação muito interessante sobre toda a história da vila e dos templários.
A poucos metros do que resta do castelo de Soure encontram-se vestígios de uma construção da mesma época em que os templários chegaram aqui. Corria o ano de 1138 quando foi concluída a reconstrução da igreja de Santa Maria de Finisterra, anteriormente destruída pela investida muçulmana. O espaço da igreja foi ocupado para a colocação dos túmulos e os seus vestígios ainda podem ser vistos hoje.
2 – Parque dos Bacelos
Muito próximo da zona onde se encontra o castelo de Soure e os vestígios da Igreja e Necrópole de Nossa Senhora de Finisterra, encontramos uma enorme zona verde. É o parque dos Bacelos, que tem uma área de 51 076 metros quadrados e que se encontra “entalado” entre os rios Arunca e Anços. Destaco o monumento Chaimite que se encontra no parque e que é ligado aos Combatentes do Ultramar e aos Heróis do 25 de Abril.
3 – Paços do Concelho
Deixando para trás o castelo e o parque é hora de entrar vila “dentro”. De usufruir da tranquilidade e de observar lojas tradicionais, o mercado, os cafés e toda a rotina que gravita à volta da praça mais central de Soure. A certa altura deparamo-nos com um edifício imponente, que rapidamente identificamos como tendo traços manuelinos.
Vemos nas fachadas alguns exemplos do trabalho de cordas e motivos vegetais na pedra, assim como a existência da esfera armilar e uma belíssima janela com varandim rendilhado. À frente da fachada principal deste edifício que atualmente são os Paços do Concelho, encontra-se um jardim que domina quase a totalidade da praça.
4 – Capela de S. Francisco e da Rainha Santa
Saindo da praça onde se encontram os Paços do Concelho e se procurarmos a Rua Morais Pinto, deparamo-nos com um pequeno templo religioso. É a capela de S. Francisco e da Rainha Santa.
Estava encerrada, não consegui visitar, mas pelo que me foi possível perceber foi construída em 1641 e tem no seu interior uma imagem da Rainha Santa Isabel, a que está ligada à existência das festas em sua homenagem.
5 – Igreja da Misericórdia
A pouco mais de 100 metros da Capela de S. Francisco e da Rainha Santa encontra-se a Igreja da Misericórdia. Este local é um pouco mais antigo, tendo sido a sua construção iniciada pela Santa Casa da Misericórdia. A estrutura que se vê ao lado já foi um hospital.
Atualmente esta Igreja está classificada como Imóvel de Interesse Público. Infelizmente também estava encerrado e não consegui ver o interior.
6 – Igreja Matriz de Soure
A mais uma curtíssima caminhada a pé encontramos a Igreja Matriz de Soure. Está num largo de passagem para os habitantes, existindo por aqui algum comércio. Foi aqui que almocei, no GastroPub, na esplanada.
Além de dois restaurantes, existe uma farmácia , algumas outras pequeninas lojas e a biblioteca municipal da vila. É um local simpático para beber um café, parar um pouco ou almoçar, tal como eu fiz.
Desta vez consegui entrar na Igreja, uma vez que a porta lateral estava aberta. Aqui encontra-se a imagem que estava na antiga Igreja de Nossa Senhora de Finisterra.
A Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra foi responsável pela organização desta blog trip de 3 dias por Coimbra, Condeixa-a-Nova e Soure. Como sempre, os meus comentários são independentes.
Dicas para explorar a região de Coimbra
Como chegar: Podem chegar a Coimbra, Condeixa-a-Nova ou a Soure pela auto-estrada ou pela estrada nacional, de comboio ou de autocarro. Não é dificil.
Como se deslocar: Os pontos que identifiquei em Coimbra podem ser todos visitados a pé, tal como eu fiz. É uma caminhada muito agradável, sem grandes declives, com exceção do acesso à zona da Universidade.
Condeixa-a-Nova já recomendo ser visitada de carro ou se quiserem percorrer a pé o centro, terão de apanhar um táxi para se deslocarem até Conimbriga ou Alcabideque. Estes pontos estão afastados do centro. Quanto a Soure, é totalmente possível explorar a pé. Contem é com uma caminhada desde a estação de comboio até lá. Mas faz-se super bem.
Onde dormir: Preferi ficar a dormir sempre em Coimbra. Fiquei na Guest House Moderna, super central, a um bom preço. Recomendo.
Onde comer: Em Coimbra fui experimentar O Croisant, que é perfeito para quem gosta mais de pestiscos e estilo”brunch” e o Dom Bacalhau. Fui também ao “A cozinha da Maria” que adorei e ao Fangas Veg, que é uma excelente opção dentro das possibilidades “vegetarianas”.
Em Condeixa-a-nova fui a um pequeno restaurante no centro, mesmo perto da Câmara Municipal e em Soure fui ao GastroPub.