A pouco mais de uma hora de Lisboa encontra-se o concelho de Vila Nova da Barquinha. Esta região é banhada pelo rio Tejo, o maior rio português, que nasce na Extremadura espanhola e desagua muito perto de Lisboa. É devido à existência deste rio que o concelho deve a sua origem.

A história remonta à época em que o Tejo era um corredor de comunicação e de comércio de vários produtos como o sal que vinha de Lisboa e a neve que vinha do do norte do país. Ainda hoje existe na Barquinha a Rua do Sal, que ficou desta forma perpetuada devido ao armazenamento que se fazia no local deste produto que era conhecido como ouro branco, pela importância que tinha.

A neve que era recolhida nas terras altas era armazenada de forma a que ficasse compactada, para que com o tempo se formasse gelo. Quando começava o verão cortavam-se grandes blocos que eram enviados para Lisboa para refrescar os mais ricos da cidade. E desta forma a história do rio Tejo acabou por ser a mesma do que a de Vila Nova da Barquinha. Começou por ter extrema importância comercial e militar, mas ao longo dos anos foi entrando em decadência, sendo o comércio fluvial sido substituído gradualmente pelo terrestre. A população criou portos e começou a dedicar-se à pesca.

Atualmente é uma região ribatejana onde encontramos vilas tranquilas e simpáticas, carregadas de uma história que remonta ao inicio de Portugal. De forma bem interessante soube evoluir com o tempo e criar pontos de interesse que justificam uma visita mais longa. De seguida vou indicar quais as principais atrações existentes e que podem ser vistas em dois dias. Uma escapada de fim-de-semana perfeita, na minha opinião.

1 – Castelo de Almourol

Este é um local imperdível e por si só justifica uma visita à região. É o castelo dos castelos. O Castelo de Almourol localiza-se no topo de uma ilha escarpada no meio do rio Tejo, sendo também por isso um dos monumentos mais emblemáticos de Portugal. O seu nome tem origem na sua localização, Al-morolan significa pedra grande.

Castelo de Almourol
Castelo de Almourol

Para chegar pode ir de carro ou melhor ainda de barco a partir de Tancos ou Barquinha. Na minha opinião esta última é a melhor opção. Pode demorar mais um pouco, mas compensa pela paisagem lindíssima do Castelo e de toda a sua envolvência. É uma experiência quase mística pensar que estamos a fazer algo que os Templários fizeram há uns séculos atrás.

Tudo começou quando o rei D. Afonso Henriques fundou o reino de Portugal, com o auxílio da Ordem dos Cavaleiros Templários. Para retribuir esta ajuda o 1º rei de Portugal doou grande parte do território português. Neste contexto surgiu Gualdim Pais, um Grão-Mestre da Ordem Templária, que D. Afonso Henriques encarregou para a defesa da região limitada pelos rios Mondego e o Tejo.

Foi com esta função militar e com traços templários que o Castelo de Almourol foi reconstruído (1171), uma vez que este já existia quando o local foi conquistado. Era do alto deste edifício que se defendia o que na época era o reino de Portugal, sendo que o Tejo era uma importante fronteira e via de comunicação. Quando o for visitar não deixe de ver a inscrição sobre a porta principal do Castelo, informando que foi Gualdim Pais o responsável pela sua edificação, a muralha interior (existe um Castelo dentro do Castelo) e a torre de menagem, que com toda a certeza vai querer subir para ter uma vista fabulosa para a lezíria ribatejana.

Vista a partir da torre de menagem (Castelo de Almourol)
Vista a partir da torre de menagem (Castelo de Almourol)

Ao longo dos séculos o Castelo sofreu várias alterações e obras de restauro, sendo hoje o monumento que evoca melhor as principais características artísticas e arquitetónicas da Ordem dos Templários em Portugal.

Almourol foi perdendo a sua importância de defesa, mas nunca perdeu a aura mística que se lhe encontra associada. Existem muitas lendas interessantes que envolvem princesas mouras e cavaleiros cristãos.

2 – Parque de Escultura Contemporânea Almourol

A Barquinha é uma vila simpática, localizada junto ao rio Tejo. Na sua zona ribeirinha existe um parque verde com sete hectares, que tem uma particularidade. É o primeiro parque de escultura onde se encontram reunidas obras dos artistas mais representativos da escultura contemporânea portuguesa. Já ganhou um Prémio Nacional de Arquitetura Paisagista, o que veio confirmar que Barquinha é sem qualquer dúvida uma importante atração turística e cultural de Portugal.

Parque de Escultura Contemporânea Almourol
Parque de Escultura Contemporânea Almourol

O melhor desta zona verde é o facto das esculturas contemporâneas estarem na liberdade, o que cria uma dinâmica e uma proximidade muito maior com os habitantes (e não só), quando comparamos com um local fechado como um museu. É muito interessante observar as pessoas tocarem e utilizarem as esculturas. Um dos trabalhos que lá se encontra é da autoria da Joana Vasconcelos, mas não é de longe a mais interessante, na minha opinião. A minha preferida é a floresta de granito e bronze de Alberto Carneiro. É uma obra biográfica muito interessante.

Floresta de granito e bronze de Alberto Carneiro
Floresta de granito e bronze de Alberto Carneiro

O autor retoma uma figura que é a mandala, dispondo os raios e circunferências concêntricas, gravando na pedra palavras como arte, vida ou terra. Os pontos cardiais tamabém lá se encontram a compor todo o seu “discurso”.

3 – Centro de Interpretação Templário de Almourol

Em novembro do ano passado abriu o Centro de Interpretação Templario de Almourol. É o primeiro do género em todo o país e possui um acervo muito interessante de vários objetos descobertos em escavações no castelo de Almourol. Além de variadas peças, o Centro fornece muita informação sobre a presença templária em Portugal.

Demonstração de combate medieval no Castelo de Almourol
Demonstração de combate medieval no Castelo de Almourol
Expositor do Centro de Interpretação Templário de Almourol
Expositor do Centro de Interpretação Templário de Almourol

Aqui aprendemos que a ilha onde atualmente se encontra o magnífico castelo de Almourol foi doada aos Templários pelo 1º rei de Portugal, D. Afonso Henriques. Foi o Grão-mestre D. Gualdim Pais que mandou reerguer a fortaleza no local onde já se econtrava uma construção mais antiga. O castelo servia para proteger e controlar todo o movimento que existisse na mais importante via fluvial do território português, o rio Tejo.

Percebemos também a origem dos Templários, como tinha de ser o seu manto, túnica, o escudo, a espada, o cordão que usavam junto aos rins, o elmo e a lança; e muito das suas tradições e rituais. Histórias que se confundem com a formação de Portugal.

4 – Igreja Matriz de Atalaia

Na freguesia da Atalaia encontra-se uma igreja classificada como Monumento Nacional. É um local dedicado à Nossa Senhora da Assunção e um dos mais belos exemplares da arquitetura renascentista em Portugal.

Foi mandada edificar por D. Pedro de Meneses entre os anos de 1514 e 1528. Este militar serviu numa importante batalha e por isso foi-lhe atribuído o título de 1º conde de Cantanhede e também as terras que correspondem à vila da Atalaia e Asseiceira.

O projeto da igreja foi realizado por João de Castilho e o portal principal por João Ruão, um escultor renascentista nascido na cidade francesa de Ruão. No imponente portal encontram-se as figuras de São Pedro e São Paulo e as armas do conde que foi responsável pela sua construção. Além do portal o que mais se destaca nesta igreja são os arcos no exterior, de ambos os lados do edifício.

Igreja Matriz de Atalaia
Igreja Matriz de Atalaia

Infelizmente não consegui visitar o interior deste templo, estava encerrado. Fiquei com curiosidade. Esta igreja foi uma obra experimental na sua época, uma vez que já se começavam a procurar soluções simétricas numa época de forte influência manuelina.

5 – Arte pública

Há arte pública nas quatro localidades de Vila Nova de Barquinha. Fachadas de edifícios, muros e postos de transformação foram transformados em telas de artistas como o Vhils, Manuel João Vieira, Violant e Carlos Vicente e também por alunos do Centro de Estudos de Arte Contemporânea e da Escola D. Maria.

Este projeto da Fundação EDP é orientado para territórios de baixa densidade populacional e pretende ocupar a rua com uma arte pensada e feita sempre com colaboração dos artistas e das populações locais. Estas são convidadas a participar em assembleias comunitárias para que se possa discutir as propostas de intervenção artística.

É muito interessante ver no que este envolvimento dos artistas e da população resultou. As obras são lindissimas e mais importante ainda, têm imenso significado para a população local.

No final deste projeto serão realizadas dez intervenções. Destaco a homenagem aos oleiros do concelho de Vhils ou o Vertigo de Violant.

Intervenção artística de Vihls em homenagem aos oleiros
Intervenção artística de Vhils em homenagem aos oleiros
Intervenção artística "Vertigo" de Violant
Intervenção artística “Vertigo” de Violant

Eu viajei a convite de Vila Nova da Barquinha, mas todos os meus comentários são independentes.



Dicas para ir a Vila Nova da Barquinha

(Se fizer as suas reservas através destes links, não paga mais nada por isso e eu ganho uma pequena comissão, o que é determinante para eu continuar a escrever sobre viagens. Obrigada!)

Como chegar e se deslocar: De carro pela auto-estrada ou pela estrada nacional, de comboio até ao Entroncamento. Para se deslocar no concelho a todos os locais de interesse recomendo o automóvel para maior autonomia. Já precisei de táxi e não foi nada fácil nem imediato (Uber nao existe).

Onde dormir: algumas possibilidades de alojamento mesmo em Vila Nova da Barquinha. Eu fiquei alojada nas Residências Artísticas, mesmo no centro, junto ao Parque.

Recomendo este hotel: Sonetos do Tejo.

Onde comer: Vou sempre ao Restaurante Ribeirinho, em Vila Nova de Barquinha. Localiza-se mesmo no centro da vila, é muito acolhedor, tem uma equipa bastante simpática e as refeições são mesmo boas.

4 Responses

  1. Gostei muito de toda a informamacao,e havia alguma que desconhecia.
    Ea meu ver,esta muito completa.
    E como disse conheco a Vila ha ja mais de 50anos ,mas ha sempre qualquer coisa que se desconhece.
    Obrigada.

  2. Olá, para quem vai de comboio e pretenda ir visitar Almourol em que estação sair?
    Parabéns pelo conteúdo descritivo. Obrigado

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