Fernando Pessoa é considerado por muitos, o maior escritor português dos tempos modernos. Viveu a grande maioria da sua vida na cidade de Lisboa, sendo ainda possível encontrar muito dele na capital portuguesa.

A sua cidade é também muito minha, pois já aqui vivo há muitos anos. Conheço-a bem, depois de percorrer tantas vezes as suas ruas, mas há sempre pormenores e perspetivas que nos escapam. Há algum tempo resolvi “olhar” a cidade pelos olhos de Fernando Pessoa. Não passei em nenhuma rua que ainda não tivesse ido, mas vi e vivi Lisboa de uma outra forma.

Imaginei aquele homem magro, reservado, com roupa cinzenta, de cigarro na mão, óculos e chapéu na cabeça, a caminhar nas ruas, pensando nas próximas palavras a colocar no papel. Fui ver onde nasceu, onde morou, onde se encontrava com amigos para beber um café ou onde estava sozinho com os seus pensamentos. Onde conheceu o seu amor e onde acabou os seus dias.

É este passeio que convido a fazer.

Primeiros anos (até aos 7 anos)

Nascimento e batizado

A história do escritor começou a 13 de junho do ano de 1888. Foi nessa 5ª feira à tarde, que no 4º esquerdo do nº 4 do Largo de São Carlos nasceu Fernando António Nogueira Pessoa. No coração de Lisboa, na zona do Chiado, mesmo em frente ao Teatro Nacional de S. Carlos.

No prédio onde nasceu encontra-se atualmente uma placa comemorativa do seu nascimento.

Prédio onde Fernando Pessoa nasceu viagem Lisboa
Prédio onde Fernando Pessoa nasceu
Placa comemorativa do nascimento de Fernando Pessoa viagem Lisboa

Placa comemorativa do nascimento de Fernando Pessoa

A mãe era açoriana e chamava-se Maria Madalena Pinheiro Nogueira, o pai lisboeta era Joaquim de Seabra Pessoa. Batizaram o seu filho com um mês de idade na Basílica dos Mártires, no Chiado, não muito longe do seu local de nascimento.

A primeira quadra: “À minha querida mamã”

O pai Joaquim morreu com tuberculose, quando Fernando Pessoa tinha cinco anos. A família mudou-se para um apartamento localizado na R. De São Marçal nº 104 3º. Foi nesta casa que Pessoa terá escrito a sua primeira quadra, tinha então sete anos. A quadra tem o nome de “À minha querida mamã”.

Mãe enviuvou e casou novamente

Pouco depois de enviuvar, a mãe casou com o comandante João Miguel Rosa, que pouco tempo antes tinha sido nomeado cônsul de Portugal em Durban, uma colónia britânica na África do Sul. Logo após o casamento toda a família mudou-se para Durban, onde passou nove anos.

África do Sul (dos 8 aos 17 anos)

Fernando Pessoa chegou com a família a Durban, na África do Sul, com oito anos. Aqui frequentou um colégio onde fez em três anos o equivalente a cinco, cedo se revelou um estudante brilhante.

Regressou a Lisboa para umas férias de uns meses, tendo pouco tempo depois regressado à Africa do Sul. Entrou na universidade e aí escreveu o melhor ensaio em inglês do exame de entre 899 candidatos.

O regresso definitivo à capital portuguesa ocorreu no ano de 1905, no ano em que Pessoa tinha 17 anos.

Regresso a Lisboa (17 aos 47 anos)

Curso de letras e primeiros empregos

Fernando Pessoa regressou sozinho a Lisboa. Tinha então 17 anos. Frequentou durante dois anos o curso de letras e trabalhou alguns meses como estagiário na R.G. Dun, uma agência internacional de informações comerciais. Com 21 anos montou a “Empresa íbis – Tipográfica e Editora”, mas cerca de um ano depois foi extinta.

Ofélia Queirós

Entre os seus 25 e os 35 anos trabalhou em cerca de dez escritórios, sempre no centro de Lisboa. Foi secretário, tradutor e correspondente comercial. Nunca teve dificuldade em arranjar trabalho, uma vez que escrevia e falava muito bem inglês.

Em alguns desses locais onde trabalhou, também escreveu excertos dos seus livros. Mas foi no escritório da Rua da Assunção que se deu o maior acontecimento de todos: conheceu Ofélia Queirós, o único amor que se lhe conhece. Sabe-se que trocaram inúmeras cartas de amor, mas nunca chegaram a casar.

Prédio onde Fernando Pessoa conheceu Ofélia Queirós viagem Lisboa

Prédio onde Fernando Pessoa conheceu Ofélia Queirós

Várias moradas

Desde que saiu da África do Sul não se conhece grandes deslocações para fora de Lisboa. Fernando Pessoa morou, trabalhou, escreveu e deambulou muito na capital portuguesa, a sua cidade natal.

Mudou algumas vezes de casa, sugiro conhecer duas das suas moradas:

Prédio onde Fernando Pessoa morou (Largo do Carmo) viagem Lisboa

Prédio onde Fernando Pessoa morou (Largo do Carmo)

Cafés e restaurantes

Pessoa frequentou imensos cafés e restaurantes lisboetas, com amigos, ou muitas das vezes sozinho, dado ser muito reservado. Ia muito à Brasileira do Rossio e do Chiado, ao Martinho da Arcada ou à taberna do Abel Pereira da Fonseca. Todos estes locais ainda existem e são fantásticos, em especial a Brasileira do Chiado. É o meu preferido.

Um local que já não existe e onde Pessoa determinada época tinha por hábito almoçar diariamente, era o Restaurante Pessoa, na Rua dos Douradores (nº 190), a uma curta caminhada do Rossio.

Brasileira do Chiado

A Brasileira do Chiado é um café emblemático de Lisboa, que foi inaugurado em 1905. Era neste espaço que figuras como Pessoa ou Almada Negreiros se reuniam de forma regular e realizavam tertúlias. Localiza-se no largo do Chiado, no coração de Lisboa.

Como homenagem ao poeta, por ser um frequentador assíduo da Brasileira, nos anos 80 foi colocada uma estátua sua, na zona da esplanada.

Estátua de bronze na esplanada da Brasileira viagem Lisboa

Estátua de bronze na esplanada da Brasileira

Martinho da Arcada

Este é o café mais antigo de Lisboa e localiza-se no Praça do Comércio nº 3 (também conhecido como Terreiro do Paço), junto ao rio Tejo. Foi inaugurado em 1872 por Marquês de Pombal com o nome de “Casa da Neve” e só em 1845 obteve a designação atual.

Pessoa era uma das grandes figuras que frequentava o Martinho da Arcada. Nos últimos anos da sua vida este café era a sua segunda casa, dado o número de horas que aqui passava. A mesa que habitualmente frequentava encontra-se exatamente da mesma forma como na sua altura. Esteve lá sentado a escrever um café dois dias antes de morrer.

Roteiro em Lisboa: A vida de Fernando Pessoa

Mesa habitual (sem toalha) no Martinho da Arcada


Taberna de Abel Pereira da Fonseca

Pessoa numa altura da sua vida tinha por hábito ir ao “Abel” para tomar um cálice de aguardente. O “Abel” era uma taberna do empresário Abel Pereira da Fonseca. Atualmente tem o nome de Licorista – O Bacalhoeiro.

No interior deste espaço encontra-se ainda hoje uma imagem do escritor ao balcão, a beber um copo de vinho. A legenda da imagem foi escrita por Ofélia e diz: Flagrante delitro”.

O fim

A vida de Pessoa terminou aos 47 anos. Foi internado no Hospital de S. Luís dos Franceses, na Rua Luz Soriano nº 182 e enterrado no Cemitério dos Prazeres. 50 anos depois os seus restos mortais foram transladados para o Mosteiro dos Jerónimos.

Onde ir (locais do roteiro)



Dicas sobre viajar até Lisboa

(Se fizer as suas reservas através destes links, não paga mais nada por isso e eu ganho uma pequena comissão, o que é determinante para eu continuar a escrever sobre viagens. Obrigada!).

Como se deslocar: A melhor maneira de se delocar no centro de Lisboa é a pé (o centro histórico não é muito grande), de metro ou em alternativa de autocarro. Se for para Sintra, Cascais, Ericeira ou margem sul do Tejo, por exemplo, existe uma boa rede de comboios e de autocarros.

Se quiser explorar os arredores, recomendo alugar carro. Vale a pena comparar os preços e escolher o melhor negócio na Rentalcars.

Onde dormir: Atualmente existe em Lisboa uma norme oferta de alojamento, pelo que escolher pode não ser tarefa fácil. Eu privilegio sempre a localização por isso recomendo ficar a dormir em Alfama, um dos bairros mais típicos e genuínos da cidade. Se ficar neste bairro pode ir a pé até ao castelo, ao Martim Moniz ou ao Rossio, locais obrigatórios numa visita a Lisboa.

Se vier num grande grupo (até sete pessoas) ou em família recomendo ficar a dormir no Luxurious Alfama Riverview, que é um apartamento super bem localizado e com uma vista fantástica para o rio Tejo.

Se vier sozinho ou num grupo de até três pessoas recomendo o Alma Moura Residences, também muito bem localizado.

21 Responses

  1. ADOREI!!! Já fiz este roteiro por Lisboa, já visitei a Casa Fernando Pessoa, já me sentei na Brasileira, já jantei no Martinho da Arcada….Tudo para lembrar e homenagear um dos meus poetas preferidos. Parabéns pelo artigo!!!!

  2. um ótimo roteiro pra quem é fã do escritor, esse café é bem conhecido por nós brasileiros, pois o escritor é bem venerado no Brasil, vou fazer esse roteiro com certeza quando for a Lisboa.

  3. Gostei muito deste post, ver Lisboa sobre a perspectiva de Pessoa, nossa, muito legal! Nós fomos duas vezes a Lisboa e eu amei a cidade. Mas não tivemos tempo de fazer um passeio assim e adorei a dica.

  4. Fantastico post! Muitos desses locais são pontos turísticos conhecidos mas outros nem sequer imaginava a ligação com escritor.

    Bjs
    Dani Bispo
    abolonhesa.com

  5. o q exatamente significa o chiado no “brasileira do chiado” (além de estar no bairro Chiado)? muito interessante o seu post, eu só conhecia a estatua mesmo de Fernando de Pessoa, nunca imaginei de pesquisar os lugares de escritores famosos!

    1. Olá Angela 🙂
      A Brasileira (do Chiado) deve o seu nome ao facto de inicialmente vender café do Brasil. A história dos nossos países está completamente ligada!!!
      Muito obrigada, que bom que gostou 😉

  6. Roteiro temático muito interessante. Eu confesso que não sou fã de Fernando Pessoa, mas é obviamente uma figura incontornável da literatura portuguesa do séc. XX. Olha, fiquei a saber que ele viveu na África do Sul! Não fazia a mínima ideia, já fiquei a aprender qualquer coisa eheheh. Obrigado pelo artigo.

    1. Olá Pedro 🙂
      É verdade, viveu alguns anos em África. Imagino que a experiência lhe deva ter possibilitado ver o mundo de uma outra forma.
      Muito obrigada eu pelas palavras!

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