Yogyakarta é uma cidade localizada na zona central da ilha de Java, uma das mais de 17000 que constituem a Indonésia. É a alma da ilha e por isso um destino absolutamente obrigatório para quem viaja até à região.
A 1ª etapa da viagem que fiz à Indonésia foi explorar por terra a zona ocidental e central da ilha, entre Jakarta e Yogyakarta. Queria muito conhecer os templos de Borobudur e Prambanan que já tinha ouvido falar tantas vezes.
Yogyakarta é uma cidade muito interessante, com imensos locais e atividades imperdíveis, por isso reservei quatro dias para aqui estar. Dediquei um dia a visitar Borobudur, outro o Prambanan e os restantes dois foi para explorar com calma a cidade em si. Aconselho se possível reservar três dias. Se tiver menos tempo é só verificar o que existe e quais são as suas prioridades.
Dia 1 – Yogyakarta
O significado filosófico
A cidade de Yogyakarta foi fundada no século XVIII pelo sultão Pangeran Mangkubumi, como centro do seu sultanato. Na construção do centro da cidade foram tidos em conta principios de cosmologia e filosofia javanesa, com influência do hinduismo e islamismo. É por isso um local peculiar e diferente de tantos outros. Só por esta particularidade já vale bem a pena ir conhecer, na minha opinião.
Não deverão existir muitas cidades no mundo onde cada componente do centro tem um determinado significado filosófico, relativo ao ciclo da vida humano, desde o início de vida até à reunificação da alma. Por exemplo, se olharmos para a cidade de norte para sul (e vice versa) verificamos que existe um eixo principal. Vemos então a Malioboro, que é a rua mais conhecida e que representa o caminho para a vida iluminada. As ruas Margotomo e Margamulyo estão alinhadas com a Malioboro e fazem parte do percurso para atingir a excelência e dignidade, respetivamente.
Eu quando aqui cheguei já tinha andado por outras cidades da ilha e foi bastante perceptível a diferença. A desorganização e caos que se sente nos restantes locais de Java não é sentido aqui. Fiquei realmente com a impressão que houve um cuidado especial em construí-la.
Mas não foi só o plano da cidade que não foi deixado ao acaso, também a sua localização foi cuidadosamente selecionada. O local de implementação foi escolhido procurando que refletisse o microcosmos. Yogyakarta encontra-se numa zona plana entre o vulcão Merapi e o mar do Sul e flanqueada por três rios a leste e oeste. Este enquadramento era entendido como o reflexo do universo.
Ao longo dos séculos Yogyakarta sofreu algumas alterações, mas o plano original do sultão permanece igual até aos nossos dias. Na minha opinião, é uma obra prima que vale mesmo a pena conhecer, por si só e não apenas pelos magníficos templos que se encontram perto. Muito provavelmente será o único local no mundo onde uma cidade materializa o pensamento filosófico sobre a natureza da vida humana.
O que ver em Yogyakarta
Pode aproveitar muitas coisas que o centro de Yogyakarta e os seus arredores podem proporcionar:
- Visitar o Palácio do sultão e Castelo da Água;
- Assistir a um espetáculo de dança/teatro de Ramayana;
- Visitar o Museu Ullen Sentalu;
- Aprender como se faz a a arte do Batik;
- Fazer compras na Rua Malioboro;
- Visitar a gruta Goa Jomblang;
- Ir até ao vulcão Merapi – quando estive em Yogyakarta entrou em atividade e por isso não pude visitar o Kraton, que foi encerrado!
Ir até ao bairro Kota Gede.
Dia 2 – Templo de Borobudur
A visita ao templo de Borobudur deverá ser a principal razão que muitos terão para visitar Yogyakarta. É um local magnífico que eu gostei bastante de visitar.
Das fotografias que eu via de outros viajantes que já aqui tinham estado, imaginava que o templo se localizasse num local isolado e talvez um pouco difícil de chegar. Tive uma enorme surpresa ao chegar ao complexo e perceber que é um recinto super explorado (turisticamente) e facílimo de chegar. Não foi por isto que deixei obviamente de adorar visitar o templo, mas confesso que fiquei um pouco desiludida quanto à expetativa que eu tinha do seu enquadramento.
Há uns anos estive no Cambodja, no Ankgor Wat e tive uma sensação fantástíca de estar num local lindo inserido num contexto magnífico, mesmo no meio de uma floresta. Eu sei que não se deve comparar locais, mas é inevitável pensar nisto. Gostei muito mais deste contexto natural e selvagem.
Em Borobudur chegamos à bilheteira e percebemos rapidamente pelo mapa exposto, que é um complexo que oferece imensas atrações, tais como passeios de comboio, museus, alguns animais, comércio e um restaurante. Eu dediquei um dia inteiro a este complexo. Aproveitei a zona verde, almocei com vista direta para o templo e observei demoradamente o Borobudur. Se puderem aconselho a chegar ao templo logo pelo nascer do sol, eu não o fiz, mas pelas fotografias e relatos que já vi e li acredito que mereça muito a pena.
O que é o Borobudur
O templo de Borobudur é um dos mais importantes monumentos budistas do mundo. Foi construído entre os anos de 780 e 840, no decorrer da dinastia Syailendra, que reinava a região central de Java na época. O templo foi construído para glorificar Buda e tinha o objetivo de ser um local de peregrinação para guiar a humanidade para a iluminação e sabedoria.
Este monumento foi construído no estilo Mandala, pelo que simboliza o universo no ensino budista. Vai ver que a sua estrutura é quadrada com quatro locais de entrada e um ponto central circular que se destaca rapidamente. Ao aceder a um dos locais de entrada pode ver que existem três patamares diferentes que correspondem aos três níveis de consciência, sendo a zona central a inconsciência (nirvana). Não vá direto ao topo, circule com calma com estes patamares também.
1º patamar do templo: Kamadhatu, o mundo das pessoas comuns
Este primeiro patamar representa o local onde as pessoas comuns vivem. Aqui encontramos 160 relevos onde podemos conhecer as cenas da vida de Karmawibhangga Sutra, relativas ao comportamento humano. Circule nesta zona e procure as imagens de roubos, torturas e difamação.
2º patamar do templo: Rapudhatu, a esfera da transição
Neste 2º patamar os humanos são libertados das questões mundanas, é portanto um plano de transição. Aqui vemos 328 estátuas de Buda, 1300 relevos muito trabalhados, painéis decorativos e palavras em sânscrito.
3º patamar do templo: Arupadhatu, a morada dos deuses
É aqui neste patamar que vai encontrar as imagens mais conhecidas, é o topo do Borobudur. Esta zona consiste em três terraços circulares com uma enorme cúpula central (stupa) que representa a elevação acima do mundo. Algo que provavelmente vai notar é a simplicidade. Neste patamar os elementos não são ornamentados, tal como se via nos dois primeiros patamares. Aqui reina a pureza das formas, que parecem sinos invertidos.
Nos terraços existem 72 stupas perfuradas, cada uma delas com a imagem de Buda no seu interior, que são o postal deste templo. Não só o templo, mas também a paisagem a partir daqui é lindissima, com um verde exuberante.
Se tiver tempo visite também os outros dois templos muito mais pequenos, que formam o complexo de Borobudur, designados o Mendut e o Pawon. Localizam-se muito próximo (mas fora do parque) e acredita-se que exista uma relação religiosa entre eles.
Dia 3 – Templo de Prambanan
Eu apenas soube da existência deste templo quando comecei a pesquisar informação sobre Yogyakarta. Pelo que percebi não é tão visitado, mas pelas imagens, descrição e significado rapidamente englobei na minha estadia à cidade. Foi um local que me surpreendeu bastante e que eu realmente adorei.
Fez-me lembrar muito o estilo dos monumentos que vi na Índia e que na minha opinião, é o mais interessante de tudo o que eu já vi.
Também como Borobudur o parque onde se encontra inserido oferece algumas atrações, mas não tantas como o primeiro que eu visitei. Pode não ter tantas atrações, o que para mim não era o que me interessava, mas a área ocupada pelos templos é bem maior. Existe o principal e muitos outros no parque agrupados em três locais um pouco afastados uns dos outros. Comecei por ver os monumentos mais distantes e num deles fiquei sem um dos chinelos, a partir daí vi tudo ainda mais devagar do que eu já queria 🙂
Há pequenos carros disponíveis que algumas pessoas utilizaram para verem rapidamente os templos, mas aconselho mesmo a fazer tudo a pé. É a melhor forma de conseguir observar os pormenores do maior complexo de templos hindus da Indonésia.
Aconselho a reservar pelo menos uma manhã ou tarde para visitar todo o complexo de templos. Se puder venha ao por do sol, a luz é fantástica.
O que é o Prambanan
O templo hindu de Prambanan foi construído no século IX, 50 anos depois de Borobudur, igualmente em plena dinastia Syailendra. É bastante interessante perceber que na mesma época foram construídos dois templos magníficos e de religões diferentes.
Além do templo principal que irá ver em primeiro lugar, existe um outro grupo que faz parte do complexo: Lumbung, Brubah e Sewu. Não fique apenas pelo mais conhecido, os restantes também justificam (e muito) uma visita.
Uma vez que entre no parque vai ter acesso a todos os templos, ao contrário do Borobudur, em que é possível visitar os templos mais pequenos mas que já se encontram no exterior.
Templo principal
Ao aproximarmo-nos do templo principal de Prambanan vemos 16 estruturas altas, sendo que três delas se destacam, uma vez que são alguns metros mais altas. Uma dessas estruturas é dedicada a Shiva, outra a Vishnu e a última a Brahma, que são o destruidor, guardião e criador do universo, respetivamente. Esta é a tríade do hinduísmo. As restantes estruturas são dedicadas aos transportadores da mitologia dos três deuses principais.
Na estrutura de Shiva, que é a central e a mais alta de todas, com 47,6 metros de altura, existe uma estátua dedicada à respetiva deusa que possui três metros. É também a estrutura mais bonita, muito mais trabalhada do que qualquer uma das outras, tanto no exterior como no seu interior.
As 3 partes do templo principal
A forma como este templo principal está organizado respeita também o estilo mandala, tal como acontece em Borobudur. Ambos os complexos estão divididos em três partes, que representam a forma como o universo era visto. Em Borobudor a existência dos três patamares torna este principio mais evidente, pois vamos subindo por 3 níveis. No Prambanan é preciso ver o templo principal como um todo, não apenas uma estrutura de forma individual.
Assim sendo, no Prambanan a 1ª parte que corresponde ao submundo é a base de todas as estruturas existentes. A 2ª parte é o corpo central das estruturas, a que corresponde o mundo médio, e por último a 3ª parte é o topo das estruturas que representa o reino dos deuses, a zona mais sagrada de todas.
Observe de perto todas estas estruturas e deixe-se maravilhar com os baixos relevos hindus lindíssimos, muito bem trabalhados, em especial a estrutura que é dedicada a Shiva. Fique a conhecer a história de Ramayana, a partir da qual existe a dança/teatro que pode ver em Yogyakarta e no Prambanan também em alguns dias.
Não se esqueça também de entrar nos templos através das escadas de acesso (muito ingrímes), além da câmara interior pode também ver de perto pelos corredores exteriores, o elaborado trabalho com que as estruturas se encontram decoradas.
Os templos de Lumbung, Brubah e Sewu
As estruturas que fazem parte deste grupo estão um pouco afastadas entre si, mas é mais do que razoável andar a pé. Fazem parte do complexo Prambanan, pelo que se visitar apenas o templo principal não vai ver a sua totalidade.
Eu gostei muito de visitar estes templos menos visitados e conhecidos. A atmosfera que se sente aqui é magnífica, as estruturas são muito bonitas e não existem quase visitantes. Só boas razões 😉
Dicas para viajar até Yogyakarta
(Se fizer as suas reservas através destes links, não paga mais nada por isso e eu ganho uma pequena comissão, o que é determinante para eu continuar a escrever sobre viagens. Obrigada!)
Quando ir: Entre Abril e Outubro.
Documentos (para um português): Passaporte com validade de 6 meses a partir da data de saída da Indonésia. Isenção de visto de entrada na Indonésia desde que a entrada ocorra por um dos cinco aeroportos principais da Indonésia ou nove portos de mar. Este tipo de visto é válido por 30 dias (não prorrogável), para fins de turismo, cultura, visita de negócios, ou fins oficiais, mas não para qualquer outro tipo de atividade laboral.
Moeda: A moeda local é a rupia indonésia.
Fuso horário: A zona ocidental (Jakarta) GMT + 6 (Verão) e + 7 (Inverno).
Idioma: Há um grande número de línguas no país, sendo a língua oficial o indonésio ou bahasa indonesia. A língua estrangeira mais comum é o inglês.
Como chegar e se deslocar: Pode ir direto ao aeroporto internacional de Yogyakarta. Eu voei até Jakarta porque quis explorar por terra a região ocidental e central da ilha. Dentro da cidade ou para se delsocar até aos templos o melhor a fazer é utilizar os tuks tuks ou em alternativa o Grab, se preferir algo mais confortável.
Onde dormir: Há muitas possibilidades de alojamento em Yogyakarta, escolher vai depender muito do que der prioridade.
Eu também gosto de explorar os lugares sem pressas, mas isso nem sempre é exequível num mundo onde temos poucos dias de férias, que precisamos coordenar com o ano letivo dos miúdos e afins. Bem, desabafo feito, acho que fizeste muito bem em reservar tempo para conhecer bem Yogyakarta. Fiquei impressionada com o sentido cósmico da cidade.
Olá Ruthia 🙂
Sem dúvida que num horário “normal” com os 22-25 dias de férias não é fácil. Mas nessas semanas livres é sempre possível fazer escolhas… Eu quando tinha uma outra vida e dias contados de férias quando viajava, preferia sempre ver menos mas melhor, sem pressa.
Yogyakarta é maravilhosa, sem dúvida.
A India é um mistério para mim! Muito bonito este lugar! Me lembrou vagamente os templos rùsticos feito pelos incas, mas muito vagamente!
Olá Juliana 🙂
Adoro a Índia, mas estes templos não são lá. Estão na Indonésia!
Maravilhoso post. Foi uma aula! Aprendi muito. Como você disse, não deve haver lugares assim no mundo construídos com base em princípios filosóficos. Lindo isso!
Fiquei absolutamente pasma com a beleza do lugar. E pelas suas fotos não me parece um desses destinos turisticos que lotam. Ou é impressao minha?
Pos incrível!
Adorei o post, confesso que não conhecia Yogyakarta e nem o Prambanan, mas fiquei impressionado com a arquitetura e beleza, as fotos ficaram lindas, parabéns.
quanto lugar incrível. Lindo e com muita história. Não conhecia e já me deu muita vontade de conhecer!! vocês fugiram bem do turismo básico da indonésia né? mt legal!
Adorei conhecer Yogyakarta! Faz tempo que estou planejando uma viagem pela indonésia, essa cidade acabou de ser incluída no meu roteiro. Parabéns, super post!
A Indonésia, tão famosa por suas praias,também tem templos magníficos!
Eu nunca tinha ouvido falar desses e adorei seu relato, pena ser tão longe!
Que legal aprender sobre esses lugares por meio do seu post. Conheço muito pouco sobre a Indonésia. Cada vez mais tenho vontade de visitar.
Já quero conhecer a Indonésia e incluir o Yogyakarta e o Prambanan na lista, um local sagrado e com muito significado, e a arquitetura é impressionante.
Que post incrível! Muito bom conhecer mais sobre esses templos impressionantes. Foi uma aula 🙂
Também acho que não devemos compara locais, mas realmente é difícil não fazê-lo.
Coloquei na minha lista de locais a conhecer porque, assim como você, gostei muito dos templos de Angkor.
IMPRESSIONANTE!! Fez-me lembrar Bagan, na Birmânia. Conheço ainda muito pouco da imensa Indonésia e acho que aqui seria uma boa forma de (re)começar a explorar este fantástico país. Bela partilha!
Tenho tanta vontade de conhecer esses templos. Fiquei 20 dias na Indonésia e não consegui chegar até ai 🙁 A comparação é inevitável né?!
Obrigada por compartilhar.
Abraços.
Que lugar maravilhoso! Nós adoramos esse tipo de viagem, nós fomos para Myanmar com a pequena e ela adoro passear pelos templos.
Ual, cada lugar lindo. Acho incrível esse tipo de construção e toda essa história.
Um dia quero conhecer esses templos. Obrigado por compartilhar.
Nossa quanto templo lindo! Fica até difícil escolher e mais belo. Adoro passeios assim. Obrigada por compartilhar.