Tânger é uma cidade localizada a noroeste de Marrocos, com um riquíssimo passado. Quando a vemos pela primeira vez deparamo-nos com uma povoação moderna, com largas e compridas estradas e uma belíssima marginal junto ao mar construída para facilitar o acesso à zona balnear de Saidia. Recentemente foi construído um grande porto que tem uma localização estratégica perfeita, encontrando-se no cruzamento das principais rotas de navegação mundial.
Eu já não vinha ao norte de Marrocos há cerca de dez anos e senti uma enorme diferença em Tânger. A zona nova da cidade está a modernizar-se a olhos vistos. Mas é preciso tirar esta camada de modernidade para chegarmos até à alma de Tânger. Esta parte antiga e algo decadente é a que realmente me fascina neste lugar. É incrível evocar tanta coisa que já aqui aconteceu, tantos escritores, músicos e tantos outros artistas que já por aqui estiveram. Oscar Wilde, André Gide, Jack Kerouak, Tenesee Williams, Henri Matisse, Cecil Beaton, Winston Churchill, Coco Chanel, …
A história de Tânger
Ao longo da sua história a cidade foi sempre um porto muito cobiçado, uma vez que possui uma posição estratégica muito interessante no estreito de Gibraltar. De acordo com a lenda, Tânger foi construída por Sufax, filho de Tinjis ou Hércules. Um local carregado de mitologia associado a esta lenda é a gruta de Hércules, localizado a cerca de 14 km da cidade. Terá sido aqui que este herói mitológico dormiu antes de iniciar os seus 12 trabalhos. Ainda não tive oportunidade de visitar esta gruta, mas a próxima vez que regressar não falharei.
Por Tânger passaram os Fenícios que criaram um porto, depois os Cartagineses, Romanos, Vândalos, Bizantinos e os Árabes. No século XV na época dos descobrimentos, o povo portugês chegou a Ceuta e tinha como objetivo alargar a sua expansão para Tânger, de forma a controlarem o estreito de Gibraltar e as suas rotas comerciais. Mas o ataque dos portugueses a Tânger foi um desastre e só conseguiram entrar em Tânger em 1471, após três tentativas falhadas.
A ocupação portuguesa durou quase 200 anos, até ser cedida aos ingleses, como dote da filha do rei português. Mas os ingleses pouco ficaram, uma vez que alguns anos depois do tal casamento, este povo foi expulso por Moulay Ismael, que se tornou sultão de Marrocos.
Já muito mais recentemente, no século XIX, decorreram vários eventos entre alguns países europeus que fizeram com que Tânger fosse o epicentro de conflitos diplomáticos e políticos. A disputa europeia só ficou resolvida com o Protocolo de Tânger em 1923, em que a cidade foi declarada zona internacional. Este acordo político fez com que Tânger fosse um refúgio de quem fugia de um mundo em destruição causado com a II Guerra Mundial e a Guerra Civil Espanhola.
Nessa época viviam aqui muitos espanhóis e norte-americanos, mas a grande maioria eram franceses e é deste ambiente que ainda conseguimos ter um pequeno vislumbre quando visitamos Tânger. Os cafés nesta zona de Marrocos têm esplanada, são virados para fora, para a rua, tal e qual como vemos nas ruas de Paris. Se formos a Marrakesh ou Fez por exemplo, e apenas para falar das mais conhecidas, não vemos nada disto.
Se estivermos atentos talvez ainda consigamos ouvir alguns ecos das festas e bailes que iam pela noite dentro no Café Baba, no Hafa, no Gran Café de Paris ou no Gran Teatro Cervantes.
Em 1956 Marrocos tornou-se um país independente.
A medina de Tânger
A velha medina é a parte mais interessante de Tânger, vale mesmo a pena passar aqui algum tempo e descobrir os seus pequenos segredos. As ruas que surgem sem saída de forma inesperada, os comerciantes, os largos com fontes, as vias principais mais movimentadas e muitas outras com alguns habitantes locais. Aqui não se ouve o som dos artesãos, tal como em Fez ou Marrakesh onde executam as suas peças.
O comércio aqui é muito diferente, uma vez que o que se vende nas lojas já se assemelha bastante com o que é vendido na Europa. Alguns artigos até já estão marcados com preços em euros…
No interior da medina encontra-se a Kahsbah, a antiga cidadela, que é hoje em dia a zona ocupada pelo Palácio do Governador ou a Mesquita.
Grand Socco e Petit Socco
A Grand Socco é uma praça enorme, oficialmente conhecida por Place du Grand 9 Avril 1947, em homenagem a um discurso feito pelo sultão Mohammed V em prol da indepedência de Marrocos. Este local fica localizado junto à medina, encontrando-se quando saimos pela Bab el Fans. Esta praça é interessante pelo movimento de turistas e principalmente de locais, que se reúnem por aqui.
Na praça existe a Mosquée Sidi Boubaid, com um belíssimo minarete em tons rosa; o antigo cinema Rif, que é agora a cinemateca de Tânger, uma bela zona verde ocupada pelos Jardins de La Mendoubia e o mercado central, com um acesso muito discreto.
A uma curta caminhada de dois minutos do Grand Socco (pela Rua dos Siaghines), encontra-se o Petit Socco, que como o nome indica é um local muito mais pequeno do que a Place du Grand 9 Avril 1947. Neste local encontramos vários locais de comércio, restaurantes e hotéis e o ritmo da vida dos habitantes de Tânger. É um bom local para sentar e beber um chá de menta.
Zona moderna
A Boulevard Pasteur e a Place de France são pontos principais da Tânger moderna, onde já se distinguem os traços europeus nos edifícios. É interessante também explorar um pouco esta zona e ver o outro lado de Tânger. Esta é a cara mais moderna, onde se assiste à mistura entre os europeus e os árabes.
Independentemente da zona em que estiver de Tânger, logo que se aperceba que o sol se começa a despedir, rume ao café Hafa, para os lados da kasbah. Este local é a memória mais forte que eu tinha da primeira vez que aqui estive na cidade e por isso foi obrigatório para mim regressar.
O Hafa está distribuído em vários patamares, ligados por uma escada, e tem uma vista absolutamente incrível para a Baía de Tânger, para Algeciras e Gibraltar. Espanha aqui tão perto.
Eu viajei a convite do Turismo de Marrocos, mas todos os meus comentários são independentes.
Dicas para viajar até Tânger
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Como chegar: Se for de Lisboa como eu, o melhor é apanhar um avião direto para Tânger. Eu voei até Fez que era a minha primeira paragem e depois segui com um minibus, para Chefchaouen, Tétouan e finalmente Tânger.
Como se deslocar: Na medina não entram carros, por isso a única forma de explorar é mesmo andar a pé. E ainda bem, porque esta é a melhor forma de conhecer um novo local. Para explorar os arredores da cidade, fora da medina, é melhor optar por um táxi. Se preferir carro vale sempre a pena comparar os preços e escolher o melhor negócio na Rentalcars.
Onde dormir: Eu dormi num local fantástico em Tânger, o Palais Zahia. É super elegante e a localização é perfeita, para explorar a medina.
Veja aqui todos os locais para dormir em Tânger
Onde comer: Há muitos locais para tomar as suas refeições na medina. Eu não estive muito tempo em Tânger por isso apenas conheci o restaurante do Palais Zahia, que vale bem a pena, se quiser ter uma refeição mais requintada.
Tours: Uma das questões que muitas vezes me colocam é sobre a necessidade ou não de um tour na medina. Eu já estive várias vezes em algumas cidades marroquinas e nunca contratei guia, nem para conhecer a medina nem para me levar a algum local em particular. Nesta viagem, excecionalmente fui acompanhada por um guia e diria que vale a pena. Penso que devemos sempre reservar tempo para andarmos sozinhos, mas é sem dúvida uma mais valia percorrermos as ruas com alguém que conhece bem o local e que nos pode dar boas dicas.
Gosto muito de Tânger, além de que para comprar achei barato.heheh
Olá Francisco 🙂
Pois é, ainda dá para comprar umas coisas baratas!