A praça Jemaa el-Fna é um dos lugares mais fascinantes onde já estive. É o coração da medina de Marraquexe e uma das praças mais famosas de África. (Para saber mais sobre esta cidade recomendo a leitura do artigo anterior). A praça foi considerada Património Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO no ano de 2008.

Começo por dizer que tudo aquilo que ler aqui é muito pouco para perceber o que é este local, centro de atividade e comércio de Marraquexe. Miguel Sousa Tavares no (livro) Sul diz que em “cada uma das portas das entradas da cidade” deveria estar escrito “Marraquexe: vive devagar e parte depressa”. “Porque Marraquexe é uma emboscada”.

Entrar na medina por uma das suas portas é entrar num local por onde de certa forma nunca sairemos… Para saber mais sobre uma medina leia aqui.

Vamos então conhecê-la melhor.

A partir do século XVI a praça foi descrita como um local onde se realizava comércio. Mas o nome que tem hoje em dia surgiu um pouco mais tarde. Um sultão pretendeu construir uma mesquita no lugar da praça e dar-lhe o nome (à mesquita) de Jemaa el-Hna. Mas ocorreu uma peste que dizimou parte da população e a mesquita não foi terminada.

Mesmo a mesquita tendo sido destruída, a praça acabou por ficar com o nome que evoluiu para Jemaa El- Fna – o local da mesquita desaparecida.

Existe também uma lenda que indica que Jemaa el-Fna significa Assembleia dos Mortos, pois era o local de realização das decapitações públicas dos criminosos. Esta prática foi mantida até ao século XIX. Podiam ser decapitadas 45 pessoas num dia e as cabeças eram conservadas e expostas nas portas da cidade, como exemplo.

Ao longo dos anos a Jemaa El- Fna sofreu alguns períodos de declinio e revitalização, tal como a restante cidade. No decorrer do século XX foi utilizada como um terminal de autocarros, tendo no ano de 2000 sido fechada ao trânsito automóvel.

Hoje em dia a praça é um local onde se vê o povo e os seus ancestrais costumes.

Predomina o constante ir e vir dos marroquinos, das carruagens, motas e dos carros de mão  a qualquer hora. E vai ficando mais frenético ao longo do dia.

Depois da cidade acordar aparecem bancas de deliciosas tâmaras e de sumarentas laranjas, encantadores de serpentes e treinadores de macacos e mulheres que leem a sina ou que fazem tatuagens com hena. Surgem também os famosos aguadeiros, com os seus trajes característicos super fotogénicos. É imperdível provar uma tâmara e um sumo de laranja natural.

Há medida que o sol se vai pondo a praça Jemaa el-Fna vai mudando, intensificando-se o ritmo de tudo o que por lá se passa. Começam a chegar as bancas dos restaurantes e começa a ver-se o fumo dos cozinhados, de forma gradual, até que ao final da noite é apenas uma nuvem de fumo única. O aroma das especiarias é sentido bem longe… Aqui pode-se saborear uma bela tajine com um chá de menta.

Além destas bancas aparecem também marroquinos que contam histórias, que cantam, desenham, dançam ou que trazem jogos. Mesmo não percebendo árabe é muito interessante assistir a todos estes espetáculos que vão surgindo e quem sabe até participar num deles. Este é o local de encontro dos habitantes da cidade e ponto de passagem dos artigos para os souks.

O espetáculo Jemaa el-Fna todos os dias é diferente. “Alberga uma rica e inatingível tradição oral”, como disse Juan Goytisolo. Pelo menos uma vez, vá fazer parte deste espetáculo único no mundo. É pura magia.

20 Responses

  1. Marrocos é um dos meus paises de eleiçao, andamos 5 semanas à boleia por lá e saimos com muitas historias engraçadas para contar. As medinas são espaços comerciais bem culturais e adorei, especialmente a de Fez. Quanto à medina de Marraquexe achei demasiado dificil de andar pois os comerciantes são muito chatos, estão sempre a falar contigo a tentar vender algo. Se olhas para uma peça estás tramada, quase que és obrigada a comprar… não gostei tanto da vibe do sitio. Mas fizemos CouchSurfing por lá e quando estavamos com o nosso anfitrião era tão bom! Ele mostrou-nos os sitios mais baratos e melhores para comermos 🙂

    Viver a Viajar

    1. Olá Marta 🙂
      É como eu, é um país que gosto bastante. Imagino as histórias… Sim é verdade, que os vendedores por vezes não dão tréguas, mas isso senti um pouo por todo o país. Tânger para mim foi o local mais “agressivo”.

  2. Sonho em conhecer Marraquexe, um dos lugares que mais tenho vontade de ir na África. Achei interessante ler um pouco sobre esssa praça. Só fiquei triste com essa história (lenda) das decapitações das pessoas 🙁

  3. Gosto de muito de Marrocos. Um país logo aqui ao lado e cuturalmente tão distinto e diferente. Marrocos é um país muito bonito, quer em termos naturais, quer em termos culturais. Fácil de viajar e um paraíso para as compras. Para além disso, tem lugares como este, a praça, cheia de tudo aquilo que procura numa viagem. Adorei.

    1. Olá Carla 🙂
      Faço minhas as suas palavras. É exatamente essa a minha opinião. Tão perto e culturalmente tão diferente. A praça é um espetáculo magnífico que espero repetir muitas vezes mais.

  4. Olá Catarina,
    Que experiencia hein. Ainda não visitei o Marrocos, mas com certeza vou querer vivenciar a praça Jemma Fna quando for.
    Essa parte da cultura local é uma das coisas que mais me fascina nos destinos.
    Um abraço,

  5. Parece ser mágico e ter uma alma diferente. Babei pensando nas tâmaras ‘de verdade’ (porque acho que as que chegam aqui são tão processadas)… Quero muito conhecer e acho que vou me apaixonar 🙂

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