Polana Serena Hotel, a “Grande Dama de África”

O início do Polana Serena

O início da história do hotel batizado inicialmente como Polana deve-se em grande parte a João Alexandre Lopes Galvão. Ele era um general português, nascido no Fundão, que estava ligado às obras públicas e ao turismo de Lourenço Marques, navegador e comerciante português e antigo nome de Maputo. Foi o responsável pela reconstrução do porto, pela construção da doca seca, pelos caminhos de ferro e pela restauração do Jardim Público, por exemplo.

Integrada em todas estas ações de desenvolvimento, ele pediu ao governador-geral de Moçambique, Pedro Massano de Amorim, autorização para a construção de um hotel na zona que era (e continua a ser) conhecida como Polana. Talvez seja interessante perceber a origem deste nome, que também é muito parecido com as famosas capulanas.

Para isso temos de “voltar atrás no tempo”, até ao século XIX, e à história do príncipe Polana Mpfumo. No seu território, a norte da baía de Maputo, era costume realizarem-se feiras. Estas eram conhecidas como capulanas e aí eram vendidas bugigangas, tecidos orientais e panos estampados e coloridos de África. Hoje em dia estes são conhecidos como capulanas, o nome da feira, e pertencem à identidade do povo moçambicano (e não só).

Polana Serena Hotel, a "Grande Dama de África"

Uma ida à feira era ir a “terras de polana” e essa designação ficou perpetuada no tempo através do nome do bairro e do hotel que nessa zona se veio a construir.

Vamos então seguir um século mais para a frente, para João Galvão. De acordo com o que é sabido, o plano era que esse hotel fosse grande, elegante, luxuoso e tivesse condições adequadas para receber políticos, diplomatas e figuras pertencentes a classes mais abastadas (estrangeiras quase sempre) que circulavam por Lourenço Marques na época. Ou seja, que fosse capaz de responder ao cada vez mais exigente mercado de negócios e turismo. 

A construção do hotel

Depois da autorização da construção ter sido atribuída, seguiram-se algumas negociações e um concurso entre várias empresas construtoras, no qual foi selecionada a Delagoa Bay Lands Syndicate, Limited. O projeto foi dirigido pelo engenheiro Hugh Le May e o arquiteto britânico Herbert Baker. Este último, esteve envolvido num  vasto número de obras, tais como o Parlamento de Nova Delhi, o Tribunal e o Palácio do governo em Nairobi e várias escolas, igrejas e casas na África do Sul.

O hotel teve um período de construção de dezanove meses e foi inaugurado a 1 de julho de 1922. Estrutura grande e imponente que seguramente impressionou na altura e que mesmo agora, passados mais de 100 anos, continua a impressionar.

O acesso à entrada é discreto e só temos noção de todo o seu esplendor quando nos deslocamos até ao acesso da piscina. Aqui é que nos apercebemos do seu estilo apalaçado e da surpreendente localização no alto de uma colina, com uma vista fabulosa, aberta, para a baía de Maputo. A primeira vez que cheguei ao Polana foi de imediato o que me prendeu a atenção.

Quando foi inaugurado tinha condições dignas de destaque para a época, nomeadamente aquecimento nos quartos, telefone, um serviço de correios e telégrafos e um elevador. E que elevador… Eu que até costumo andar sempre de escadas, sempre que podia andava neste elevador. É mesmo encantador, antigo, com um interior forrado a madeira.

Um detalhe que nos transporta para tempos antigos, para os anos 20, em que quase se “vê” homens de chapéu e senhoras de vestido comprido a deslocarem-se para os seus quartos. Puro glamour.

Polana Serena Hotel, a "Grande Dama de África"

A Inauguração

Imagino que o dia da inauguração tenha sido um grande acontecimento na cidade. Foi dado um jantar para 131 convidados, com muitas das pessoas que estiveram de alguma forma ligadas  à construção do hotel e várias personalidades influentes e poderosas da época.

Não consigo imaginar em que sítio exatamente do hotel é que terá ocorrido este jantar, mas tenho a certeza que terá sido épico. Há muitas e boas possibilidades para a sua concretização. E isto é algo que tenho de referir sobre o hotel. No meu segundo dia de estadia é que descobri que afinal ainda havia muitos mais cantos e recantos por descobrir. E atrevo-me a dizer que esse ponto é uma das coisas que mais surpreende no Polana.

Apesar de ter sido construído numa perspectiva de “Palácio”, consegue de forma muito hábil e subtil ter vários espaços familiares, discretos e mais acolhedores. Talvez ao contrário do que se possa imaginar inicialmente, pelo tamanho de toda a estrutura. Pelo menos era o que eu esperava.

O que mais me surpreendeu foi uma zona de estilo “árabe”, com várias salas de massagem e uma piscina de água quente a fazer lembrar Marrocos, que eu tanto gosto. Não aproveitei porque não é permitida a entrada de crianças, mas fica a dica para vocês, e se forem sem crianças pequenas.

Imediatamente a seguir tenho de destacar a sala dos pequenos almoços. Toda pintada de branco, com vista para a piscina e a baía de Maputo, com ventoinhas no teto. Juro que várias vezes julguei ver o famoso Hercule Poirot e as suas cenas no exterior. O ambiente é mesmo maravilhoso.

As mudanças ao longo dos anos

Ao longo dos anos o Polana foi mudando de dono. Em primeiro lugar esteve sob a responsabilidade do sr. Kershaw e da sua mulher, posteriormente em 1936 o hotel foi comprado pelo empresário I.W Schlesinger e mais tarde por uma empresa a que estavam ligados portugueses.

Neste último período, o Polana sofreu algumas obras de reconstrução e ampliação, aproximando-se mais do que vemos hoje. A procura era muita e era importante aumentar a capacidade de resposta ao número de dormidas.

Chegou o ano de 1975, como quem diz, a independência de Moçambique. Terminou um longo período de conflito armado no país, mas por outro lado começou uma época complicada, em que o Polana entrou em declínio. E assim permaneceu durante 20 anos. Foi apenas no ano de 1994 que  um grupo sul-africano adquiriu o hotel e conseguiu recuperar o seu brilho, acompanhando o que sucedeu à própria cidade, que aos poucos tendia para alguma tranquilidade…

Os moçambicanos, e viajantes estrangeiros, começaram a procurar o hotel, não só para dormir mas também para estadias mais curtas, com organização de festas, jantares e idas ao ginásio e vários outros eventos.

Com o Polana já pertencendo ao Fundo Aga Khan continuaram as ampliações e melhoramentos e a mudança de nome para Polana Serena Hotel, tal e qual é agora. Fico feliz por perceber que ao longo dos anos parece ter havido uma certa continuidade na linha do que deve ter sido pensado há 100 anos quando foi construído. O Polana é de facto um ícone da cidade de Maputo, que sofreu as agruras de um conflito, mas que deu a volta e recuperou o seu brilho. O charme continua lá. 

Até já “Grande Dama de África”, espero voltar.

A minha estadia resultou de uma parceria com o Hotel Polana Serena. Como sempre os meus comentários são independentes.



Dicas

Vistos: De acordo com o portal das comunidades portuguesas, os cidadãos portugueses portadores de passaporte estão isentos da apresentação de visto de entrada em Moçambique, para fins de turismo e negócio. Na altua em que eu fui ainda era.

Como chegar: O Hotel Polana Serena localiza-se numa zona central da cidade de Maputo. A 15 minutos do Aeroporto Internacional e 12 minutos da famosa Estação de Comboios.

Como visitar Maputo a partir do hotel: Em Maputo pode deslocar-se a pé, é uma cidade que não tem muitos declives. No entanto, é extensa, por isso pode precisar de um meio de transporte para se deslocar aos locais mais distantes do hotel. Eu utilizei sempre o txopela, que é o nome que localmente é atribuído a um tuk tuk. É barato e rápido (há sempre muitos a passar na estrada, pelo menos até à hora de jantar).

Para reservar a dormida: Para verificar preços e os diferentes tipos de quarto que existem pode consultar diretamente no site do hotel aqui ou em alternativa o booking aqui.

Onde comer: Fui várias vezes a um restaurante que fica pertíssimo do Polana Serana. É o Delícias da Zambézia. Toda a equipa é muito simpática e a comida é extremamente bem confecionada. Durante os dias em que estive em Maputo fui a mais um ou outro sítio mas para ser muito honesta, valeu muito mais a pena o restaurante que inicialmente vos referi.

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