Na região norte de Portugal, a cerca de 340 quilómetros de Lisboa e a apenas 40 da cidade do Porto encontra-se Penafiel. É uma cidade enquadrada numa belíssima paisagem de montes, vales e serras, com o rio Tâmega e o belíssimo rio Douro, o 2º maior da Península Ibérica.
Penafiel é um região ocupada desde a pré-história, possuindo por isso um património e uma história muito rica que vale mesmo a para conhecer. Vou dar dez razões para ir já lá.
1 – Dezenas de monumentos megalíticos
A região que atualmente se designa de Penafiel é ocupada há mais de 4000 anos, possuindo vários vestígios da época pré-histórica. Nesta altura eram construídos monumentos através da utilização de blocos de pedra, que podiam pesar toneladas. Foi o período do megalitismo.
No decorrer deste fenómeno cultural foram construídas antas (ou dólmens) e menires. Uma anta é um monumento funerário construído com lajes de pedra, que demonstra a dedicação que a comunidade prestava aos seus mortos. Por outro lado, os menires são obras associadas ao culto da fecundidade ou a rituais mágico-religiosos.
Em Penafiel é possível conhecer monumentos megalíticos funerários e outros não funerários. De entre os primeiros é de destaque a Anta de Santa Marta (ou Forno dos Mouros) com câmara e um corredor, que deveria encontrar-se inserido num túmulo de dimensão considerável. Quanto aos menires é de referir o de Luzim, um dos três que existe em toda a zona norte de Portugal.
2 – Um dos maiores castros do Noroeste Peninsular (Monte Mozinho)
A aproximadamente 17 minutos de carro da cidade de Penafiel, nas freguesias de Galegos e Oldrões, encontra-se um dos maiores castros do Noroeste Peninsular, o Monte Mozinho.
Trata-se de uma cidade proto-romana, coeva do início da era, que tantos estudiosos e visitantes tem atraído para dentro dos seus limites.
Povoado castrejo de época romana, fundado no século I d.C. mas com uma ampla cronologia de ocupação, que chega mesmo a atingir o século V. Fortificado com duas linhas de muralhas, o castro possui uma extensa área habitada, com cerca de 22 hectares, e apresenta diversas reformulações urbanísticas, sendo possível observar vários tipos de construção, desde núcleos de casas-pátio de tradição castreja, com compartimentos circulares e vestíbulo, às complexas habitações romanas de planta quadrada ou rectangular. Na parte superior do castro destaca-se a muralha do século I, cuja entrada era flanqueada por dois torreões onde se encontravam duas estátuas de guerreiros galaicos, actualmente no Museu Municipal. O topo do castro é coroado pela acrópole, delimitada por um espesso muro e estéril em construções interiores. Aí se desenrolariam actividades várias, como jogos, assembleias, mercado, etc. As escavações no castro de Monte Mozinho tiveram início em 1943, retomadas em 1974, e desde então não mais pararam, podendo o espólio ser visto no Museu Municipal de Penafiel.
Este povoado castrejo é o maior castro romano da Península Hibérica. Este Importante património comtempla-nos ainda com um templo romano que se designa de Flaviana.
Os estudos que têm vindo a ser desenvolvidos comprovam ainda a contínua ocupação deste lugar desde o séc. I até à Idade Média.
O sítio está classificado como Imóvel de Interesse Público desde 1948.
3 – Termas medicinais romanas com 19 séculos
No decorrer da ocupação romana da área que corresponde atualmente a Penafiel, foram descobertas por este povo as propriedades medicinais das águas de São Vicente do Pinheiro. A qualidade da água é uma das mais sulfúreas sódicas, fortes, alcalinas e fluoretadas da Europa, adequada ao tratamento de afecções reumáticas, respiratórias e músculo esqueléticas, entre outras.
Os romanos davam uma enorme importância à higiene corporal e à terapia pela água, pelo que foi construído um balneário romano para aproveitar as águas que brotavam junto à Ribeira da Camba, por volta do século II. Muito mais tarde, já no século XX foi construído o complexo termal que atualmente é ocupado por um Hotel que oferece acesso direto ao balneário termal e ao SPA. Além do acesso a estas águas termais, é de destaque a beleza da zona verde onde se encontra inserida. Ainda hoje lá está a capela do projeto original.
4 – Paragem na estrada real para o Porto
Na idade média existia uma estrada real que ligava o Porto a Trás-os-Montes e às Beiras, que passava no que é hoje o centro da cidade de Penafiel. Esta estrada era uma importante via de comunicação, dado que o rio Douro não era navegável na época. A imagem que temos do rio calmo com belos cruzeiros, não tem nada a ver com a força da água que o tornava muito perigoso, quase indomável. Poucos eram capazes de o navegar e os que o conseguiam eram extremamente bem pagos para tal tarefa.
Muitas das pessoas que pretendiam viajar até ao Porto, não podiam ir pelo rio, recorrendo por isso à estrada real. Por terra as viagens eram realizadas de forma muito lenta, dada as condições da estrada e dos meios de transporte e por isso tinham de ser realizadas algumas paragens para comprar/vender mercadorias, comer, dormir ou reparar o carroça, por exemplo. Foi desta forma que o lugar da freguesia de S. Martinho de Moazares se desenvolveu e passou a chamar-se Arrifana de Sousa e mais tarde quando foi elevada a cidade, de Penafiel.
Saliento para a visita da:
- Rua do Carmo – era exatamente o percurso que a estrada real nº 33 tomava;
- Largo da Nossa Senhora da Ajuda – o templo com o mesmo nome que lá sencontra foi reconstruída, uma vez que a antiga teve de ser removida por dificultar a passagem na estrada medieval;
- Rua D. António Ferreira Gomes e Rua da Vista Alegre – era aqui a bifucarção que a estrada medival fazia em direção às Beiras e a Trás-os-Montes.
Ao fazer o percurso por estas ruas são de destacar as várias casas de famílias nobres, onde encontramos ainda o brasão de armas das respetivas famílias proprietárias, assim como várias outras construções com valor patrimonial, classificadas como Monumento Nacional ou Imóvel de Interesse Público.
5 – Seis monumentos que fazem parte da rota do românico
No final do século XI/início do século XII ocorreu na Europa um período de transformação. Teve início uma época de estabilidade política, crescimento populacional, valorização da vida religiosa em instituições monásticas e o culto às relíquias dos santos, que criou condições para o aparecimento do estilo românico, predominantemente religioso.
Em Portugal o aparecimento deste estilo ocorreu na reconquista levada a cabo por D. Afonso Henriques, com a reorganização eclesiástica diocesana e paroquial e com os mosteiros das várias ordens monásticas. Era no noroeste e centro do país que residiam as famílias nobres que foram muito importantes no início da nacionalidade portuguesa, por isso é nesta zona onde se encontra o total dos 58 monumentos que fazem parte da Rota do Românico.
Especificamente no concelho de Penafiel existem seis monumentos que integram a rota, sendo de destaque o Mosteiro do Salvador de Paço de Sousa. Foi aqui que nasceu a corrente que é designada por românico nacionalizado, que teve como base a tradição pré-românica e por outro lado os temas oriundos do românico de Coimbra e da Sé do Porto.
A edificação original do Mosteiro remonta ao ano de 994, quando se fundou uma comunidade monástica que acabou por se tornar um dos mais destacados estabelecimentos beniditinos do Entre-Douro-e-Minho. Estava ligado a uma importante famílias do Tâmega e Sousa, os Ribadouro, que procuravam adquirir poderes através dos mosteiros da região.
No interior do Mosteiro encontra-se o túmulo de Egas Moniz, que pertencia à família Ribadouro. Ele foi aio do rei D. Afonso Henriques e uma das figuras centrais do início da nacionalidade.
6 –Melhor Museu Português em 2010
O Museu Municipal de Penafiel localiza-se no centro histórico e comercial da cidade de Penafiel, num dos edifícios mais emblemáticos para a comunidade penafidelense.
Foi inicialmente constituído em 1948 junto da Biblioteca, no palacete do Barão do Calvário e posteriormente foi instalado no palacete Pereira do Lago, na Rua do Paço, num edifício recuperado pelos arquitetos Fernando Távora e Bernardo Távora.
O espaço museológico divide-se em cinco salas, cada uma delas com uma temática diferente. A sala da identidade é onde existem vários objetos de coleção, a do território é onde se encontra a peça de design com o nome de “Olhómetro” que permite ver a região, a da arqueologia que retrata cinco milénios de história, a sala dos ofícios que mostra a arte do ferro e da madeira e finalmente a sala da terra e da água que retrata a atividade piscícola moageira de Penafiel.
É um espaço moderno e interessante que recebeu mais de dez distinções diferentes, entre elas o Melhor Museu Português em 2010.
7 – Aldeia de xisto da Quintadona e a Festa do Caldo
A aldeia de Quintadona é o núcleo vivo do Museu Municipal de Penafiel desde 2013. É uma aldeia típica muito bem preservada, cujas construções utilizam xisto, granito e lousa, enquadrada num local com uma enorme beleza natural. A povoação é lindíssima, as ruas são empredadas e as fachadas das casas estão todas muito bem recuperadas.
Vale a pena ir com tempo, passear nas ruas e desfrutar da paisagem. É de destacar o largo onde se encontra o cruzeiro e a capela com mais de 200 anos, os lavadouros tradicionais e os canastros, que são estruturas elevadas para armazenar cereais. A aldeia tem algumas dezenas de habitantes permanentes , locais para comer (Winebar Casa da Viúva) e para dormir também (Casa Valxisto).
Se for no terceiro fim de semana de setembro ainda pode comemorar a Festa do Caldo, onde é possível provar os caldos tradicionais dos anos 50 e 60 quando eram a base da alimentação da população rural. O ponto forte da Festa são as atuações dos “comoDEantes”, grupo teatral que recorre ao uso de máscaras e a textos baseados nas vivências do povo.
8 – Jardins da Quinta da Aveleda
Muito perto da cidade de Penafiel encontram-se um dos mais bonitos e bem conservados jardins românticos de Portugal. É um segredo “escondido” atrás dos muros altos da famosa Quinta da Aveleda.
Mesmo no coração da Região dos Vinhos Verdes encontra-se um espaço quase mágico, fundado em 1870 por Manoel Pedro Guedes da Silva da Fonseca e que já vai na 6ª geração. A família Guedes continua a habitar a residência familiar que é o coração de todo o espaço, o que cria uma ligação muito forte à Quinta e ao negócio. Em frente à casa, que está coberta de videiras e de plantas exóticas, encontra-se a Fonte das Quatro Estações do ano, realizada pelo mestre João Silva. Anexa à residência está uma das primeiras construções, uma capela privada.
Os jardins que rodeiam a casa são luxuriantes, existindo várias espécies de árvores, uma torre que alberga cabras anãs, uma janela manuelina que pertenceu à Casa do Infante, uma casa de chá junto a um lago e várias casas (follies) que se encontram espalhadas pela propriedade e que nos remetem para o conto infantil de Hensel e Gretel.
Os vinhos que são produzidos têm variados prémios nacionais e internacionais desde o século XIX. De entre todos eles destaca-se o Casal Garcia que nasceu em 1939, com uma história muito interessante. Um enólogo francês decidiu interromper a sua viagem de comboio quando avistou as vinhas da Quinta da Aveleda, para falar com o seu proprietário. Dessa conversa resultou a contratação do enólogo com a promessa de que iria melhorar o processo de vinificação. No fim da vindima o enólogo retirou uma amostra de um pipo de madeira, colocou-a numa velha garrafa de vidro, limpou-lhe o pó com um lenço de renda, tendo ficado um pouco da renda colada. O rendilhado ainda hoje está nas garrafas do famoso vinho Casal Garcia.
9 – Gastronomia típica
Em Penafiel, os pratos mais típicos são o cabrito ou o anho assado com arroz de forno, o cozido, o sável frito ou de escabeche e a lampreia à bordaleza ou em arroz de sangue. Tudo vai depender da época do ano e da festividade religiosa da época, mas o vinho verde da região estará sempre presente. Estamos em plena região demarcada, a maior zona vitícola portuguesa.
Na doçaria o destaque vai para as tortas de S. Martinho. Esta iguaria terá nascido numa tasca de Penafiel, com uma senhora que lá trabalhava que começou a fazer uns pastéis de carne picada de que tinha a receita. Foi um enorme sucesso, até hoje.
10 –Festival literário que aborda um escritor (vivo) de língua portuguesa
O Escritaria é um Festival Literário que se realiza em Penafiel e que homenageia a vida e obra de um escritor vivo de língua portuguesa. Todos os anos em outubro são desenvolvidas várias iniciativas de reflexão e partilha literária em volta de autor. É um acontecimento único em Portugal, que já permitiu uma enorme proximidade com autores como Pepetela ou José Saramago.
A cidade transforma-se nos dias em que decorre o Festival, existindo exposições, arte de rua, teatro e música, interpretação de textos e disponibilização de material de leitura para os habitantes. Este ano será já a 12ª edição.
Eu viajei a convite da Câmara Municipal de Penafiel, mas todos os meus comentários são independentes.
Dicas para viajar até Penafiel
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Como chegar: Se for de Lisboa como eu, pode ir de carro pela auto-estrada ou pelo Itinerário Nacional, de comboio (até Marco de Canaveses) ou de autocarro.
Como se deslocar: Recomendo alugar carro, para ter mobilidade para percorrer toda a região. É muito interessante andar pelo centro da cidade, mas muitos pontos de atração encontram-se nos arredores. Vale a pena comparar os preços e escolher o melhor negócio na Rentalcars.
Onde dormir: Recomendo ficar a dormir no Penafiel Park Hotel & Spa . Foi o que eu fiz. É muito elegante, confortável e bem localizado, permitindo numa caminhada de 10 minutos chegar ao centro histórico.