O Redondo é uma simpática vila portuguesa, localizada a cerca de duas horas de Lisboa e muito perto da fronteira com Espanha. São apenas 30 minutos que separam a vila da Fortaleza de Juromenha, guardiã do Guadiana e de Portugal.
Aqui no Redondo, na minha opinião, está o melhor do Alentejo. A envolvência da povoação é magnífica, com as típicas planícies douradas a perder de vista, “pintalgadas” ocasionalmente com sobreiros e um pouco mais longe mas bem visível, a Serra de Ossa com pouco mais de 600 metros de altitude no seu ponto mais alto.
Sobre uma colina de 300 metros de altitude, surge a simpática vila, com casas pequenas, caiadas de branco com moldura azul, encostadas ao antigo castelo que remonta já a tempos medievais. O ambiente é calmo, o tempo tem outro ritmo, muito diferente do de Lisboa onde vivo. Os habitantes conhecem-se todos uns aos outros, reinando um ambiente muito acolhedor, para quem vem de fora. As conversas e os sorrisos são fáceis, a gastronomia e o vinho maravilhosos, é um sítio onde apetece voltar uma e outra vez.
Vou-lhe dar dez razões para ir conhecer ou regressar uma vez mais à vila do Redondo.
1 – O Redondo é no Alentejo
Eu sou suspeita porque o Alentejo é a minha região preferida de Portugal, mas o facto de o Redondo se localizar aqui só por si já é uma boa razão para fazer uma visita. As vastas planícies invocam serenidade e algum romantismo, os monumentos lembram os séculos de história e os povos que já por aqui passaram, como os romanos e os árabes, o tempo passa um pouco mais devagar e permite apreciar os dias de uma outra forma.
A par de tudo isto come-se muito bem e bebe-se ainda melhor. Os vinhos alentejanos são muito conhecidos em Portugal e no mundo. Há uns tempos atrás o Alentejo foi considerada a melhor região de enoturismo do mundo, ganhando à conhecida La Rioja ou a Napa Valley.
Se quiser saber mais de Évora ou de outras regiões do Alentejo recomendo visitar o blog de viagens Visit Évora.
2 – Tem um castelo construído há oito séculos
O local onde se encontra atualmente o Castelo do Redondo começou por ser uma fortificação romana. Foi apenas na época da reconquista cristã da Península Ibérica que o rei D. Afonso III mandou construir um castelo sobre as ruínas da antiga fortaleza romana. Alguns anos mais tarde, é que foi acrescentada a torre de menagem e a cintura de muralhas com várias torres, que vemos atualmente.

No século XV os habitantes da vila foram responsáveis por uma petição em que era defendida a construção de uma nova Torre de Menagem, uma vez que diziam que a que tinham era demasiado baixa. Conseguiram, foi construída e esta sim é que é a atual. Esta construção foi doada pelo rei D. Manuel I, a Vasco Coutinho, primeiro conde do Redondo, que muito provavelmente viveu num local contíguo à Torre de Menagem. Vale a pena subir ao terraço que permite observar uma boa parte da envolvência do Redondo.

Mesmo ao lado da Torre de Menagem encontrava-se o Hospital da Santa Casa da Misericórdia, que chegou a utilizar a torre como área de isolamento para doentes com tuberculose.
No interior da zona muralhada existe também o antigo celeiro, agora Enoteca e meia dúzia de casas baixinhas, com as típicas chaminés retangulares. Numa delas encontramos uma olaria, propriedade de um senhor já bem velhinho. Vale a pena ir lá conhecê-lo, trocar dois dedos de conversa, ver os seus trabalhos e perguntar se é possível subir ao primeiro andar. Neste espaço existem umas escadas que conduzem à parte superior da muralha e a uma vista soberba do Redondo e da planície alentejana.

3 – Uma das portas do castelo deu nome a um vinho
Existem duas portas para aceder ao interior da cintura de muralhas. A Porta do Postigo, localizada no Largo Dom Dinis, mesmo no coração da vila e a porta da Ravessa, que fica na extremidade oposta. Na parte superior da porta mais próxima do centro da vila, encontra-se o brasão de armas da família Coutinho, um bonito relógio com numeração romana e uma torre com três sinos. É aqui marcado o tempo da vila, que se vai ouvindo com uma cadência certa. De dia e de noite.
Ao contrário da Porta do Postigo que está virada para o interior da vila, a Porta da Ravessa permite olhar mais longe, para a imensa planície. É por ela que temos de passar se quisermos ir para o Museu do Barro por exemplo.


O nome Porta da Ravessa é atualmente muito mais do que uma porta de um castelo do século XIV, é também uma marca de referência da Adega Cooperativa do Redondo.
4 – Já foi de passagem obrigatória
Em pleno ano de 1418, Redondo era uma vila com poucas pessoas. Os procuradores da terra pediram ajuda ao rei D. João I de Portugal, conhecido por Mestre de Avis, no sentido de arranjar alguma maneira de atrair mais pessoas para lá morar. Em resposta a este pedido o rei tornou a vila de Redondo passagem obrigatória para todos os que viajassem entre Évora, e Alandroal ou Vila Viçosa. Ficou desta maneira proibida a utilização de qualquer outra estrada neste trajeto.
Foi o início do desenvolvimento comercial do Redondo.
5- Tem um espaço que conta tudo sobre a louça típica
Existem referências a uma corporação de oleiros no Redondo já no ano de 1516, ou seja, há mais de 500 anos atrás. Esta arte é muito antiga e ainda hoje se podem visitar meia dúzia de olarias sobreviventes na vila. Chegaram a ser 43. Apesar de haver a tradição do barro em outros locais do Alentejo, aqui a loiça é diferente, muito provavelmente por ter sido uma zona ocupada por romanos e árabes. Estes povos terão deixado conhecimento relativo ao aproveitamento das riquezas existentes no subsolo, a argila.
Noutros tempos a extração do barro era gratuita, sendo um direito dos oleiros. Chegou uma altura em que os proprietários dos terrenos não viam esta ideia com bons olhos e tomaram medidas para impedir a extração do barro dos seus territórios, mas os oleiros ganharam e esse direito continuou a existir. O barro depois de retirado da terra era submetido a várias operações até começar a ser trabalhado (torneado) pelo oleiro. No decorrer dos séculos XVII e XVII, todas as peças que resultavam deste processo tinham de ser vendidas à população local, no mercado semanal, e o que sobrava é que podia ser vendido fora do concelho.
Foi neste contexto que surgiram os almocreves, que acabaram por ser os responsáveis pela loiça do Redondo ficar conhecida em Portugal. Eles compravam loiça à fornada, sempre a crédito, percorriam montes, povoações grandes e pequenas e só a pagavam depois de a tererm vendido.
Toda esta história está agora no Museu do Barro do Redondo, localizado no antigo Convento de Santo António,que já albergou uma comunidade monástica de cerca de duas dezenas de elementos. É gratuito, toca a aproveitar.


6 – Tem uma olaria tradicional
No Redondo existem cinco ou seis olarias ainda em funcionamento. Esta arte de trabalhar o barro tem vindo a ser praticada por cada vez menos pessoas, mas felizmente ainda há alguns sobreviventes. Uma dessas olarias é a chamada de Poço Velho e fica mesmo ao lado da entrada do Parque Ambiental da vila. O dono, Mestre Baeta, é simpático, normalmente deixa os curiosos entrar e conhecer um pouco este espaço que já era do seu pai.
Esta olaria é um sítio um pouco escuro, com paredes cheias de louça empilhada, chão repleto de restos de barro que ficaram por trabalhar e com várias prateleiras aparentemente desequilibradas mas que vão resistindo aos anos. O forno a lenha onde o mestre coze as suas peças é o único em todo o Redondo que ainda funciona a lenha. Aqui todo o processo é feito de forma tradicional, imperdível ir presenciar o processo que o Museu do Barro tão bem explica.
Olaria Poço Velho Mestre Baeta na Olaria Poço Velho)
7 – Tem um Parque Ambiental perfeito para toda a família
Para os lados do Museu do Barro, a meia dúzia de minutos da Porta da Ravessa, encontra-se o Parque Ambiental do Redondo. É uma área relativamente grande, com um enorme espelho de água no centro e com árvores a toda a volta. Tem também um parque infantil, um conjunto de máquinas para fazer exercício e uma zona destinada a pic-nics.
Durante os dias em que estive na vila estive neste parque duas vezes com a minha filha, é um sítio perfeito para fugir do calor, correr, relaxar e deixar os miúdos brincar totalmente à vontade, se for o caso.

8 – É possível dormir num antigo restaurante
Mesmo no centro da vila do Redondo encontra-se um antigo e conhecido restaurante que foi convertido em alojamento local pelos atuais proprietários. A estrutura e a decoração d’ O Barro permitem fazer parte da história do próprio espaço e também da vila alentejana onde se insere. Na minha opinião completa na perfeição a experiência do Alentejo…
Logo quando se entra pelas portas antigas de madeira, deparamo-nos com o balcão do restaurante, um sofá convidativo e uma enorme talha onde antigamente era guardado vinho. Por detrás do balcão existe uma cozinha pequena mas muito simpática, com uma belíssima decoração, onde imagino terem sido confeccionadas muitas refeições. Há móveis de pedra, com cortinados vermelhos e brancos, há peças utilitárias de cozinha, que nos fazem lembrar os nossos avós, tudo coisas que os donos conseguiram reunir ao longo do tempo.
Ao subirmos para o primeiro andar passamos pela lareira, que torna com toda a certeza este espaço ainda mais acolhedor. Eu não experimentei, estive no Redondo no período do verão. Na parede ao longo das escadas estão fotografias, manuscritos e recortes de jornal e revistas relativos à história da vila e de Portugal. O primeiro andar é ocupado pelo quarto, onde é também possível colocar uma cama (insuflável) extra. A cama é de ferro e tem aos seus pés um baú castanho e as paredes desta divisão estão decoradas com peças de artesanato típicas desta região do Alentejo e não só.
A casa ainda se torna mais acolhedora quando conhecemos o casal proprietário. Eles fazem-nos sentir em casa, pela simpatia e disponibilidade e pelos vários mimos que têm o cuidado de disponibilizar. Até ofereceram um jogo à minha filha…
Pormenor d’ O Barro Pormenor d’ O Barro Interior d’ O Barro Pormenor d’ O Barro Entrada d’ O Barro
9 – Pode passear pelo montado
Uma forma perfeita de conhecer um pouco melhor a paisagem que envolve a vila do Redondo, é visitar a Herdade da Maroteira. Fica apenas a sete quilómetros, no sopé da Serra D’Ossa e ocupa uma área enorme com 540 hectares. Aqui é produzida cortiça e vinha, pelo que é um ambiente perfeito para realizar um passeio e “entrar” na paisagem alentejana, a bordo de um jipe.
Ao longo do passeio pelas estradas de terra batida da Herdade, conseguimos ver uma boa parte da serra e avistar Évora por exemplo. É uma imensidão a perder de vista do alto da encosta. Visitamos também as vinhas onde crescem as uvas que vão fazer o vinho Cem Reis, que não conhecia mas que gostei imenso de provar. É um vinho com vários prémios internacionais, vale a pena experimentar.
Apesar de haver uma área considerável de vinha, a esmagadora maioria da paisagem da Herdade da Maroteira é ocupada por sobreiros. E perceber todos os seus segredos e também o processo inerente à retirada de cortiça foi para mim o mais interessante. Pouco sabia sobre a forma de extração e sobre a delicadeza que é necessário ter em todo o processo. É uma arte que tem de ser aprendida durante muito tempo.
No final do passeio de jipe provei alguns bons vinhos que gostei bastante, tais como o Senhor Doutor ou Dez Tostões.
Jipe na Herdade da Maroteira Paisagem da Herdade da Maroteira Prova de vinhos na Herdade da Maroteira
10 – Pode visitar o edifício do ano 2018
Eu nunca tinha ouvido falar da Herdade do Freixo, tendo tomado conhecimento dela durante a minha estadia no Redondo, com o dono do alojamento O Barro. É uma adega super inovadora, única na Europa, subterrânea, eleita o edifício do ano 2018. Foi uma surpresa maravilhosa conhecer este espaço, nunca tinha visto nada assim.
A entrada da herdade de 300 hectares é discreta e super elegante, pelo que sentimos logo que vamos gostar do que vai aparecer. Um pouco mais à frente, vemos uma enorme área vidrada que não se percebe muito bem se tem continuidade. Quando entramos aqui e já numa visita guiada, somos surpreendidos pelos magníficos 40 metros de espiral subterrânea. Faz lembrar o Museu Guggenheim da vizinha cidade de Bilbao. É belíssimo.
Receção da adega da Herdade do Freixo Sala de provas da adega da Herdade do Freixo Interior da adega da Herdade do Freixo Sala com barricas na adega da Herdade do Freixo Sala da Herdade do Freixo
O acesso aos vários espaços da adega da Herdade faz-se ao longo desta estrutura e é tudo tão silencioso e limpo que até nos esquecemos que estamos num sítio onde se faz vinho. Bem, pelo menos da forma como estamos habituados. A Herdade do Freixo não tem nada a ver com nenhuma das outras adegas que eu já tinha visto. imperdível.
Eu viajei a convite d’O Barro – Alojamento Local e fui convidada a fazer o passeio de jipe da Herdade da Maroteira, mas todos os meus comentários são independentes.
Dicas para ir ao Redondo
(Se fizer as suas reservas através destes links, não paga mais nada por isso e eu ganho uma pequena comissão, o que é determinante para eu continuar a escrever sobre viagens. Obrigada!)
Como chegar: De carro pela auto-estrada e/ou pela estrada nacional ou de autocarro (Rede Expressos).
Como se deslocar: O Redondo é uma vila pequena, pelo que é totalmente possível percorrer todas as ruas a pé. No entanto, se quiser deslocar-se no concelho recomendo o automóvel para maior autonomia. Vale a pena comparar os preços e escolher o melhor negócio na Rentalcars, se quiser alugar.
Onde dormir: Eu fiquei a dormir n’ O Barro e gostei imenso da experiência. É um alojamento muito bem localizado no centro do Redondo, mesmo ao lado do castelo, muito confortável e com decoração típica alentejana. Recomendo.
Tours: Eu fiz um percurso de jipe no montado da Herdade da Maroteira. Além da paisagem ser muito bonita, gostei bastante de aprender mais sobre os sobreiros e a cortiça. Vale mesmo a pena.