Quem visita Lisboa vai ver obrigatoriamente as ruínas do Carmo, uma vez que se localizam no centro da cidade. O que resta da Igreja do Carmo encontra-se no alto de uma colina (tendo por isso posição de destaque), não muito longe da Praça D. Pedro IV, mais conhecida por Rossio.
Se aqui estivermos, o nosso olhar vai ser inevitalmente atraído pelo Carmo de um lado e do Castelo do outro. São dois cartões postais da cidade.
Recomendo que suba pela Rua do Carmo, logo seguida da Rua Garrett e finalmente a do Sacramento. Eu moro em Lisboa e vou passear repetidas vezes por esta zona, adoro. Quando sair, se quiser novamente ir para o Rossio utilize o elevador de Santa Justa, igualmente um marco incontornável de Lisboa.
Na minha opinião, se visitar a capital portuguesa deve ir ao Carmo por 10 razões.
1 – Ligação a D. Nuno Álvares Pereira
Existiu um rei em Portugal que não tinha filhos, pelo que após a sua morte Nuno Álvares Pereira, um reconhecido cavaleiro português, apoiou o seu filho ilegítimo para subir ao trono. A alternativa era o marido castelhano da filha do rei, o que implicava Portugal perder a sua indepedência.
Foi neste contexto que um cavaleiro militar português, Nuno Álvares Pereira, teve um papel extremamente importante. Ele eliminou a ameaça castelhana, o que fez com que o filho ilegítimo tivesse acabado por se tornar rei de Portugal. Por este feito foi nomeado Condestável do Reino, um importante cargo militar nesta altura.
2 – Rivalidade com o castelo
A iniciativa de construção do Convento tinha como objetivo rivalizar com o rei. O Castelo, símbolo do poder real, encontra-se do lado oposto ao vale do Rossio. Através da construção de um grande convento (72 metros de comprimento e altura máxima de 20 metros) o Condestável pretendia mostrar o seu poder politico. Parecia quase querer dizer que o seu poder estava à altura (tinha a mesma importância) que tinha o Rei.
O Convento demonstra também a Fé do Condestável, o que também se veio a comprovar quando se juntou aos frades Carmelitas (que ocupavam o convento), tornando-se Frei Nuno de Santa Maria. Foi no Convento que passou os seus ultimos anos de vida e que foi sepultado.
3 – Desafio de engenharia para a época
O Condestável escolheu a colina que viria a ser designada de Carmo, pela localização estratégica e também porque fazia lembrar o monte Carmelo, situado na Palestina. Mas a construção no alto de uma colina implicou a existência de alguns problemas de construção.
O terreno era arenoso e a escarpa extremamente instável, o que levou a que o edifício tivesse ruído duas vezes. Apenas quando Nuno Álvares Pereira contratou dois mestres de obras judeus é que foi descoberta uma forma de lidar com a instabilidade da colina e de levar a obra até ao fim.
Ao entrar na Igreja do Carmo pelo portal principal, logo após a bilheteira, vai ter de descer um lance de escadas. Isto foi uma solução prática para resolver o problema de diferença de cota.
4 – Naves da igreja descobertas
No ano de 1755 ocorreu um terramoto seguido de maremoto (e de um incêndio), que foi responsável pela destruição de boa parte de Lisboa. Até surgiu uma frase que é muito referida pelos portugueses, “Caiu o Carmo e a Trindade”, como referência a alguma coisa catastrófica.
A maioria das dependências do convento não sofreu grandes danos, mas o teto das naves da igreja acabou por ruir, destruindo quase todo o que se encontrava no interior do templo. Morreram muitas pessoas, estava a ser celebrada uma missa.
Depois do terramoto a comunidade carmelita do Carmo decaiu e a igreja ficou abandonada (por falta de dinheiro), o que lhe conferiu uma aura de melancolia e reflexão, muito valorizadas na época. Os intelectuais portugueses da época deambulavam pelo Carmo para longos atos de reflexão e troca de ideias. As ruínas do Carmo acabaram por se tornar uma autêntica fonte de inspiração.
5 – Janela do Mosteiro dos Jerónimos
Quando entrar na Igreja do Carmo vai imediatamente observar uma janela mainelada, com uma separação central e muito trabalhada a toda a volta. Esta peça encontrava-se no Mosteiro dos Jerónimos, um dos mais importantes monumentos da cidade de Lisboa.
7 – Paredes que parecem medievais são as mais recentes
Muito mais recentemente, já nos anos 40 a Direção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais realizou um vasto conjunto de obras no interior da Igreja do Carmo. Este é um organismo estatal português.
Foi nesta época que foram colocados nas paredes brasões e lápides, e que foram levantadas as paredes em tijolo de Alcobaça. Quando estiver a descer as escadas da Igreja vai ver estas paredes à sua frente, no local onde vai entrar para o museu. É onde se encontra inserida a janela que já pertenceu ao Mosteiro dos Jerónimos.
O aspeto que os tijolos conferem à parede faz crer que é uma estrutura antiga, quando na verdade é das mais recentes.
8 – Primeiro museu de arte e arqueologia do país
Já no século XIX Joaquim Possidónio da Silva, arquiteto da Família Real portuguesa, decidiu criar o primeiro museu de arte e arqueologia de Portugal. Ele viajou pelo país recolhendo peças que se encontravam em edifícios abandonados. Nesta época o património encontrava-se ameaçado pela extinção das ordens religiosas, pelas invasões francesas e por algumas tensões existentes em Portugal.
Possidónio levou para o Carmo imensas peças que recolheu durante vários anos nestas viagens que realizava pelo país. foi ele também que criou a Associação dos Arquitetos Civis Portugueses. Ainda hoje é no Carmo que se localiza a sede da mais moderna Associação dos Arqueólogos Portugueses.
9 – Convento mesmo ao lado
O Convento do Carmo encontra-se imediatamente ao lado das ruínas da Igreja. Passa muito despercebido, uma vez que a porta original desapareceu e por ser atualmente ocupado pela Guarda Nacional Republicana (GNR) , uma das organizações policiais portuguesas. Se visitar o Museu da GNR é possível conhecer um pouco do que já foram as instalações ocupados pelos Carmelitas. Vai puder passar pela escadaria de acesso à antiga Capela interina do Convento e observar alguns fragmentos do antigo portal ou ainda o hábito da Ordem do Carmo de D. Nuno.
10 – Local fantástico para beber um copo
Mesmo junto às ruínas, já virado para o Rossio, encontra-se uma fantástica esplanada. São 1500 m2 de área, com uma vista fantástica para o Castelo de São Jorge, para o Elevador de Santa Justa e para as águas furtadas das casas da baixa pombalina.
Na minha opinião, sentar aqui ao final do dia (quando o sol confere uma luz maravilhosa a Lisboa) com um gin na mão e as ruínas do Carmo nas costas é um programa absolutamente imperdível.
E tire muitas fotografias. Esta é a ruína mais cenográfica de Lisboa.
Dicas para ir até ao Museu Arqueológico do Carmo
Quando ir: Entre 2ªf e sábado, das 10h às 18h entre Outubro e Maio e entre as 10h e as 19h nos restantes meses.
Localização: Largo do Carmo, Lisboa
Mais informações: Site oficial do Museu.
Dicas sobre viajar até Lisboa
(Se fizer as suas reservas através destes links, não paga mais nada por isso e eu ganho uma pequena comissão, o que é determinante para eu continuar a escrever sobre viagens. Obrigada!).
Como se deslocar: A melhor maneira de se delocar no centro de Lisboa é a pé (o centro histórico não é muito grande), de metro ou em alternativa de autocarro. Se for par Sintra, Cascais, Ericeira ou margem sul do Tejo, por exemplo, existe uma boa rede de comboios e de autocarros.
Se quiser explorar os arredores, recomendo alugar carro. Vale a pena comparar os preços e escolher o melhor negócio na Rentalcars.
Onde dormir: Atualmente existe em Lisboa uma norme oferta de alojamento, pelo que escolher pode não ser tarefa fácil. Eu privilegio sempre a localização por isso recomendo ficar a dormir em Alfama, um dos bairros mais típicos e genuínos da cidade. Se ficar neste bairro pode ir a pé até ao castelo, ao Martim Moniz ou ao Rossio, locais obrigatórios numa visita a Lisboa.
Se vier num grande grupo (até sete pessoas) ou em família recomendo ficar a dormir no Luxurious Alfama Riverview, que é um apartamento super bem localizado e com uma vista fantástica para o rio Tejo.
Se vier sozinho ou num grupo de até três pessoas recomendo o Alma Moura Residences, também muito bem localizado.
Muito rico o seu texto. Para falar a verdade, eu desconhecia esses detalhes da história de Portugal.
Aqui no Brasil recentemente fizeram uma cena de novela que consistia em um casamento dentro das ruínas de uma igreja. Foi lindo! Penso que uma cerimônia dentro das ruínas do Carmo seria fabulosa também.
Não conhecia essas ruinas, mas lendo as 10 razões me convenceu a em uma próxima visita procurar e visitar o lugar. As fotos estão bem interessantes
Sou apaixonadíssima pelo Convento do Carmo, para além de ser uma testemunha silenciosa de tantos acontecimentos lisboetas e nacionais, ainda rende imagens fantásticas (e dramáticas). O meu filho ficou muito impressionado com a múmia que viu nesse museu.
Abraço
Nossa, tô vendo que não conheci muita coisa quando fui a Lisboa. Preciso voltar para fazer um outro roteiro. Dicas anotadas!
Eu não sabia desse lugar, que fantástico!
Quando ainda fecha com um bom drink.. dizer o que? Preciso ir Aí!! Rs
Amei as fotos do post
Que lugar incrível de se conhecer. Me senti lá lendo o seu post. Sua história é fascinante e terminando todo o passeio com um bom copo… nada melhor!
O que vem a ser o Lisboa Passport? Achei a ideia divertida!
Acabei visitando estas ruìnas por um acaso. Vimos a placa de indicação na rua e decidimos entrar. Não sabia o que era e adorei, principalmente as naves da igreja descobertas. Rendem òtimas fotografias! Não conhecia a expressão “Caiu o Carmo e a Trindade”! Gostei!
Infelizmente, não sabia dessa Janela do Mosteiro dos Jerónimos. Ela realmente destoa de toda a construção
Uauuu, fiquei super impressonada com esse post, que lugar lindo! Amei 🙂
Esse post veio na hora certa pra mim! Vou conhecer Lisboa daqui alguns dias e to na expectativa de ter o meu carimbo também, haha. 🙂
muito interessante essa expressao do carmo. apesar da historia triste, achei as ruinas muito bonitas e gostaria de visitar